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quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Doutor Sono, de Stephen King



O Iluminado é, sem a menor sombra de dúvidas, um dos meus livros favoritos do Stephen King perdendo somente (por enquanto) para A Dança da Morte. Então imagina só a minha ansiedade para ler Doutor Sono e descobrir o que aconteceu com Dan Torrance e que novas surpresas ele poderia nos mostrar! E em meio as altas expectativas, medo de me decepcionar com uma sequencia tão esperada como esta, King não me decepciona e nos entregou uma sequência digna, profunda e por que não emocionante? 

Mesmo mais de 30 anos após escrever sobre as desventuras da família Torrance no Hotel Overlook, King não erra a mão e é evidente os laços profundos que une as duas obras quase que tornando-as uma só. Em Doutor Sono vemos Dan Torrance, já um homem de meia idade, lutando para controlar um demônio interior, o mesmo demônio que perseguiu seu pai e que o destruiu: o alcoolismo. Mesmo atormentado pelos horrores do passado ele tenta descobrir seu lugar no mundo e está determinado a não se tonar o que seu pai acabou tornando-se. Assim ele acaba indo parar em uma cidade onde entra para o AA. Lá começa a trabalhar em um asilo para pacientes terminais onde ganha a alcunha de Doutor Sono, por utilizar seus poderes de iluminado para dar conforto às pessoas na hora da morte, tornado este momento menos doloroso. 

Próximo dali há uma criança, Abra Stone, que possui um poder de iluminação nunca antes visto, mais forte que o do próprio Dan. Isto acaba por atrair certas criaturas maléficas que se alimentam deste tipo de dom, chamados O Verdadeiro Nó, e Dan vai fazer de tudo para proteger Abra destas criaturas maléficas. 

Se existe um tema que define cada obra do King creio que Doutor Sono fale sobre redenção, enquanto que  O Iluminado falava sobre família e responsabilidade. Neste livro vemos Dan, que apesar de ter herdado o alcoolismo do pai, está determinado a ser uma pessoa boa e não se deixar consumir pelos impulsos destrutivos que acompanham sua família. Vê também na defesa de Abra uma forma de se redimir não só por ele, mas pelo pai e uma maneira de se livrar de todos os demônios interiores que sempre o atormentaram.

Uma das coisas também que mais gostei em Doutor Sono foi a escrita do King, que nunca esteve tão fluida, clara, leve e sem enrolação. Cheguei a ler mais de sessenta páginas sem cansar nem um pouco. Também as tramas dos dois livros ficaram bem amarradas, com os núcleos de Dan e Abra se interligando de uma maneira tão precisa que chego a considerar este livro um dos mais bem escritos do King.

Gostei muito do início do livro se dedicar a mostrar Dan ainda criança e aprendendo a controlar seus poderes e a como se desviar dos demônios do Overlook que ainda o perseguiam. Só achei que o King poderia mostrar mais um pouco da Wendy, pois foi uma das personagens mais marcantes de O Iluminado

Achei a trama envolvendo O Verdadeiro Nó bastante interessante, porém não era isso que mais me prendia no livro. Me envolvi muito mais com os dramas do Dan e a relação dele com a Abra. É tanta que achei o  vilões muito fracos. E Rose, a cartola, que tinha tudo para ser uma vilã marcante, furiosa e sanguinária, praticamente não se move.

Uma das melhores partes do livro é o final, cheio de reviravoltas e boas surpresas. Aqui King engana o leitor direitinho. O desfecho é emocionante e com diálogos muito bons e dá aquele gostinho de quero mais.

Apesar de ter amado Doutor Sono ele não se equipara a O Iluminado, onde a atmosfera tensa, o terror psicológico e a narrativa assustadora tornam o livro inigualável. Doutor Sono não tem quase nada disso. Este foi o primeiro dos lançamentos mais recentes do King que li e achei inúmeras referências às coisas que conheço como Harry Potter, Game of Thrones e até Crepúsculo!

Enfim, se está com receio de ler este livro com medo de se decepcionar, vá fundo, ele é muito bom. Só não espere nenhum novo Iluminado e com certeza você vai conseguir apreciar a obra. 

Título original: Doctor Sleep, 2013
Tradução: Roberto Grey
Editora: Suma de Letras
Páginas: 475

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

O Pacto/Amaldiçoado, de Joe Hill



Sabe aqueles livros que todo mundo fala super bem e que você não vê a hora de ter eles na mão para ler logo? Pois é, O Pacto, escrito pelo filho do renomado escritor de terror e suspense Stephen King, Joe Hill, era um desses livros que sempre figuraram na minha lista de desejados por ser tão bem criticado pelos leitores. Porém, tive sempre um certo receio de adquirir ele por não ter gostado tando assim de um outro livro dele "Heart-shaped Box" (Sim, igual aquela música do Nirvana) traduzido aqui no Brasil como "A Estrada da Noite". O fato é que consegui ler o livro por meio de um grupo muito legal que encontrei na internet, com pessoas muito bacanas e sem neuras que emprestam seus livros mesmo a gente morando a quase 2.000 km de distância! E olha a surpresa: odiei o livro!


A narrativa central de O Pacto gira em torno de Ignatius Perrish que foi acusado de estuprar e matar a namorada, Merrin, mas por falta de provas nunca foi preso. Daí um belo dia o cara acorda com chifres (o título original é Horns = chifres) na cabeça e olha só: toda vez que uma pessoa olha pra ele despejam pra fora todos o seus segredos mais sujos. Daí o livro segue contando o passado de Ig, como conheceu Merrin e quanto eram apaixonados e ainda a relação de Ig com um amigo, que está mais pra amigo da onça, Lee Tourneau e o crescimento de uma amizade baseada na ingenuidade de Ig, e sua fé na bondade humana, inveja e morte. E também as coisas sobrenaturais que cercam Ig e seus misteriosos chifres.

Uma das coisas que me incomodaram em A Estrada da Noite, como a crueza da narrativa e os acontecimentos absurdos e totalmente sem noção, não estão presentes em O Pacto,  pelo contrário, Hill abusa de uma narrativa prolixa, tal como o pai, e cuida da construção dos personagens de uma maneira mais cuidadosa tornando eles mais profundos. Há também um cuidado com a narrativa e sua linearidade, onde o autor meio que conta a história de trás pra frente, pontuando a trama com flashbacks mostrando a construção do caráter e a personalidade dos personagens principais envolvidos na trama central que culminaram com o assassinato onde gira a trama principal. Até aí ponto positivo! Isso mostra o quanto Joe Hill evolui como escritor. Mas por que não gostei do livro?

Primeiro, não gostei da maneira como Hill quis mostrar o quanto o ser humano tem de podre dentro de si, retratando a influência do demônio sobre as pessoas. Só acho que se ele quis mostrar isso, e creio que essa era uma das propostas principais do livro, ele pegou bem leve, podendo ter se debruçado bem mais nesta questão tornando o livro uma trama de terror psicológico bem mais intensa e macabra. 

Segundo, Ig é um personagem muito chato e bobo, aquele tipo de pessoa que acredita em tudo e todos e só consegue ver o lado bom das coisas. Creio que uma pessoa assim  deve apanhar muito na vida. Como de fato aconteceu no livro. A ingenuidade de Ig e a maneira como ele vê o mundo e as pessoas culminou por desgraçar a vida dele. Daí o cara vira um demônio cabuloso, cheio de poderes, consegue até controlar cobras e sabe o que ele faz? Apanha...e muito! Daí achei que a questão do sobrenatural não foi muito bem trabalhada. 

Terceiro, a narrativa do livro parece uma montanha russa, cheia de sobe de desce. Tinha horas que o livro estava  muito bom, cheio de reviravoltas, dai lá vem aqueles flashbacks, muitos deles eram bem chatos e se arrastavam por capítulos sem fim e isso me tirava o clima e deixava o livro bem maçante.

E por último, acabou que o livro teve um fim triste e sem respostas. Se teve respostas elas ficaram muito subentendidas. A questão dos chifres do Ig e o por que de ele ter recebido aqueles poderes não são respondidas, não espere por isso se você estiver lendo o livro agora. Sem contar que o mistério da morte da Merrin é solucionado antes do meio do livro e não é nada surpreendente.

Apesar de tudo ainda lerei outros livros do Hill, (inclusive já adquiri Nosferatu) por que gosto do modo inusitado como ele constrói as histórias e seus personagens, a maneira sem pudor como ele trata qualquer assunto sem banalizar nada em seus livros. Hill tem um futuro muito promissor como escritor de supsense e terror e consegue fugir da sombra do pai e escrever sobre os mesmos temas sem ser constantemente comparado com ele. O livro  foi adaptado para o cinema em 2013 com Daniel Radcliffe (o eterno Harry Potter) no papel principal e já vi tantas críticas negativas que só me fizeram ficar sem vontade de ver o filme. Ainda mais não tendo gostado do livro, mas pretendo fazer isso em breve.



Título: O Pacto/Almaldiçoado
Título original: Horns
Autor: Joe Hill 
Ano: 2010
Páginas: 320
Editora: Arqueiro

sábado, 10 de maio de 2014

O Parque dos Dinossauros, de Michael Crichton


Testando novos formatos aqui no Fantasia BR, teremos pela primeira vez uma resenha dupla! O livro escolhido não foi ao acaso. Devido a nossa formação em Biologia escolhemos um livro que tem tudo a ver com isso: Parque dos Dinossauros. Desculpa se nos apegamos as bases científicas da obra. Coisas de cientista :)

Alysson: O filme O Parque dos Dinossauros, clássico da Ficção Cientifica brilhantemente dirigido por Steven Spielberg, foi um dos filmes que certamente marcaram minha infância, vi centenas de vezes que cheguei a decorar as falas. Não muito tempo depois descobri que o filme fora inspirado em um livro homônimo escrito por Michael Crichton, por muito tempo fiquei curioso pra lê-lo no entanto era muito difícil de encontrar pra comprar, até que um dia me deparei com ele em uma versão pocket em uma livrara em Brasília. Não pensei duas vezes em adquiri-lo. Porém da compra até a leitura transcorreram-se quase três anos, mas finalmente consegui terminá-lo e essas são as minhas impressões e as do Enio sobre esse clássico moderno da Science Fiction.

Enio: Quem não gosta de dinossauros? Quase todos nós fomos arrebatados na infância por esses seres envoltos em mistério que parecem ter vivido em outro planeta. Quem é da nossa geração com certeza ficou deslumbrado(a) com a versão desses “monstros” que o diretor Steven Spilberg apresentou no cinema. Mas você já leu o livro que inspirou a série de filmes? Pois prepare-se para ter uma incrível experiência literária ao viajar para o futuro e passado simultaneamente com essa incrível obra de Michael Crichton.

Enio: Fiquei completamente encantado com esse livro. Sempre fui fascinado pelos filmes da série Jurassic Park, mas depois de ler a obra original novos horizonte se abriram para mim. 

Alysson: Realmente livro e filme são bem distintos e isso foi uma grata surpresa, um dos motivos de ter adiado tanto a leitura foi o medo de ler algo repetitivo. 

Enio: Fazendo uma comparação entre o livro e o filme, achei que a melhor mudança que a adaptação para o cinema fez foi o “crescimento” a Lex. No livro ela é uma pirralha chata que só serve pra irritar todo mundo, inclusive o leitor.

Alysson: Em relação aos personagens, achei a Lex um porre de chata também e tinha vontade de rasgar fora as partes que o Ian Malcolm falava demais sobre a sua teoria do caos, gostei mais dele no filme que no livro. O cara, mesmo na hora do perigo não fechava a matraca! Allan Grant foi mais bem retratado no livro e o velho dono do parque é um completo idiota ganancioso. No filme lembro de ter simpatizado com ele.

Enio: É verdade que no filme só mostra o lado sonhador e deslumbrado do dono do parque, o que também me deixou até com a impressão que era outro personagem. 

Alysson: Como biólogo, por formação assim como o Enio, fiquei fascinado com o tema abordado no livro, sobre os avanços da biotecnologia e a possibilidade de se recuperar, através da engenharia genética, seres extintos de eras atrás. 

Enio: Sobre o tema biotecnologia, o livro explora bem a visão que muitas pessoas tinham naquela época sobre o avanços desse ciência. Você pode notar isso em muitas obras dessa época. Tinha-se uma perceptiva muito otimista para o futuro próximo e que se revelou hoje, vinte anos depois, falha. 

Alysson: Apesar de isso ser uma belíssima teoria, sabemos que isso, como estudos recentes mostram, nunca será posto em prática. 

Enio: Acontecesse que a técnica apresentada por Crichton precisaria de uma quantidade enorme de DNA (ou ADN, como preferirem) intacto. Entretanto estudos revelam que o DNA não sobrevive nem 7 milhões de anos, e os dinossauros viveram a 65 milhões de anos atrás. Logo, não veremos dinossauros vivos andando pro ai em nenhum parque ou zoológico.

Alysson: Porém a maneira como o autor se utilizou dessa utópica possibilidade de se clonar dinossauros foi bem convincente e aposto como deixou muitos leitores na época do lançamento (1991) com uma pulga atrás da orelha, pois dinossauros são seres admiravelmente belos, mas terrivelmente assustadores também.

Enio: Indo um pouco mais a fundo no processo descrito no livro, mesmo se achássemos uma sequência de DNA incrivelmente preservada de dinossauros, sair remendando as partes que faltam com sequências de qualquer animal como do Dr. Wu fez não ia rolar. Essa foi a coisa que mais me incomodou no livro todo. Provavelmente o que ia resultar disso eram vários ovos inviáveis, e com sorte alguns fetos grotescos.

Alysson: Justamente! Isso foi umas coisas que mais me incomodou no livro também, eles utilizavam qualquer sequência de DNA de qualquer espécie pra colocar nos pedaços que faltavam no dos dinossauros, como se o DNA fosse um quebra cabeça de criança onde se pode sair remendando facilmente aquelas quatro letrinhas (A T G C). Sem contar que eles mexiam às cegas sem saber que pedaços do DNA seriam sequências codificáveis (genes). E se fossem, eles realmente saberiam que proteínas essas sequencias iriam produzir? Que seres iriam ser produzidos? O livro fala que era um jogo de erros e acertos, mas eles acertaram demais pra soar convincente. E tudo em 5 anos! 

Enio: O mais provável é que se usasse só DNA de aves, os parentes vivos mais próximos dos dinossauros, mesmo assim sem garantias. Isso me lembra de outro ponto. O livro insiste em dizer diversas vezes que os dinossauros não são répteis, mas mais parecidos com as aves. Embora as justificativas que o livro apresenta não estejam erradas, considero que esse debate é irrelevante. 

Alysson: A maneira de se classificar os seres vivos não é uma unanimidade na ciência, existem diversos sistemas de classificação propostos, alguns são aceitos outros não. Os dinossauros são descritas nos livros como os parentes mais próximos das aves, mas é uma linhagem extinta de répteis sim.

Enio: Acontece que a Biologia trabalha hoje com uma classificação dos seres vivos que tenta reproduzir a sua evolução. 

Alysson: Indo mais a fundo todos os seres tetrápodes amnióticos são linhagem evoluídas dos répteis, isso inclui nós, mamíferos. 

Enio: Assim o “grupo” dos répteis inclui sim os dinossauros, mas por uma questão de paradigmas exclui dois ramos dessa árvore genealógica, os mamíferos e as aves. 

Alysson: As aves, por possuírem características exclusivas, não são répteis, mas sim descendente de uma linhagem destes, provavelmente a mesma da qual surgiram os dinossauros. 

Enio: Dessa forma pode-se considerar as aves como, na verdade, os dinossauros que sobreviveram e poderiam ser portanto também classificadas répteis. Essa mudança na classificação não ocorreu, mas Biologia está deixando de classificar os seres vivos por “características” compartilhadas, como o sangue frio, para agrupá-los por parentesco evolutivo.

Alysson: Acho também que o livro abordou bem pouco essa questão biomolecular, sobre a complexidade envolvida na expressão dos genes, penso que de propósito, pois é perceptível que Crichton, apesar de não ter sido biólogo, sabia muito sobre o que falava no livro.

Enio: O autor falhou também em explicar sobre comportamento animal. Ele foi categórico ao falar que era impossível se prever o comportamento animal com base na sequencia de DNA, mas isso não está totalmente certo. Talvez não tenhamos conhecimento suficiente na área, mas isso é sim possível até um certo ponto, já que o comportamento também é influenciado fortemente pelo ambiente.

Alysson: Essa coisa de que o comportamento é influenciado pela genética, ele tentou dar uma explicada puxando no final. Aquela ideia de dizer que os dinossauros eram aves primitivas, quando mostrou os raptores tentando “migrar”, aí ele meio que se contradisse né?

Enio: O livro, além de falar muito sobre avanços da ciência na área de Biologia, também fala muito de computadores. Eu também tenho formação na área de informática, mas confesso que não conheço como funcionavam os sistemas informatizados por volta do ano 1991. Entretanto não consegui perceber nenhuma problema nas explanações sobre o sistema do parque e sua programação.

Alysson: Achei sobre os sistemas computadorizados e as demais geringonças “modernas” do parque muito chatas. Imagino que para os leitores da época, como eram descritos tecnologias de ponta, fosse mais interessante. Hoje como a tecnologia faz parte de praticamente tudo, até ler sobre avanços recentes é um tanto chato. Pra mim essa questão serviu apenas como gancho para o desenrolar da trama, já que foi o sistema falho, com uma ajudinha, que desencadeou a liberação das feras do parque. Confesso que pulei alguns parágrafos, por que ler aquelas explicações após um ótimo capítulo de ação era como tomar um banho de água fria.

Enio: Eu gosto de ler sobre tecnologia então não achei nada disso chato (risos).

Alysson: Como já falei, eu achava o Malcolm um chato e tanto! Eu sempre achei a Teoria do Caos interessante, mas o cara falava demais sobre a coisa e meio que cortava o clima do livro, assim como os computadores e suas explicações sobre o funcionamento do parque faziam.

Enio: Eu já havia, em outra ocasião, tentado entender um pouco mais sobre a teoria do caos, mas devo admitir que fiquei boiando em meio a tantas explicações técnicas sobre o tema. Foram as palavras do Malcolm, com uma explicação menos técnica e portanto mais fácil de compreender, que me fizeram ter uma visão um pouco melhor sobre a teoria. Tudo isso ficou mais maçante, eu acho, só próximo ao final do livro. Mas mesmo assim, aquelas viagens teóricas que ele faz me renderam boas reflexões. 

E pra concluir:

Alysson: A Biologia não é uma ciência exata, muito do que eu aprendi no Ensino Médio mudou de figura quando entrei na graduação, e com os avanços da ciência cada vez mais descobrimos coisas novas e os horizontes sobre o entendimento da complexidade da vida não estão mais tão distantes de nós. Por isso questões sobre ética e bioética são cada vez mais debatidas entre os cientistas. Uma das coisas que o livro aborda é a utilização irresponsável do conhecimento biológico para fins obscuros. Mendel, o pai da Genética certamente teve medo de que sua descoberta sobre os genes fosse utilizada para selecionar deliberadamente características “desejáveis” e eliminar as que não serviam, quebrando a maravilha da variabilidade que existe na natureza. Clonar dinossauros pode ser um sonho, mas hoje os cientistas já conseguem manipular a molécula base da vida e a questão sobre o uso irresponsável das técnicas e do saber cientifico é um fato muito bem abordado por Crichton em O Parque dos Dinossauros.

Título original: Jurassic Park (1991)
Autor: Michael Crichton
Ano: 2009
Editora: Rocco e L&PM
Páginas: 488

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Santuário, de Andrio Mandrake


Em 2012 uma grande estiagem que ocorreu no Rio Grande do Sul acabou revelando as ruínas de uma vila alagada por uma represa há 40 anos. A partir desse evento atípico Andrio Mandrake desenvolve sua narrativa que envolve mistério e sobrenatural. 

Logo de cara, uma das coisas que me chamou atenção nesse livro foi o uso de um acontecimento real, num lugar que existe, para criar uma narrativa fantástica. Nada de outros mundos ou universos paralelos. Ou seja, nada de ter que aprender tudo sobre um novo mundo mais uma vez. Um alivio, sento sincero.

O livro divide-se em dois domos, cada um iniciado com uma ilustração muito bela. Aliás no livro todo nota-se um cuidado com a parte gráfica. Desde a capa até detalhes no inicio de cada capítulo, o que se torna uma atração a mais para o livro.

Andrio conseguiu construir bem alguns personagens, com diálogos internos bem realistas que acaba por criar empatia. Entretanto é na hora da interação entre esses personagens que ele peca. Principalmente com os diálogos. As coisas, nesses momentos, acabavam acontecendo em uma velocidade exagerada, e nem sempre natural.

A história foca em alguns poucos personagens. Mas é Ian, um historiador, o ponto central da trama e a partir do qual todos os outros orbitam. É assim o personagem trabalhando com mais profundidade e que tem um complicado dilema interno. Ele vai visitar as ruínas da vila principalmente para fugir de problemas familiares e no trabalho, tentando espairecer. Mas para seu azar acaba encontrando muito mais do que isso.

Outra personagem importante, Laura foi quem mais me intrigou. Completamente impulsiva, e extremamente rápida na hora de abandonar o luto pela morte do amigo.

Algo que pode atrapalhar a fluidez da leitura de alguns, como atrapalhou a minha, é a linguagem arcaica que permeia o livro. Esse tipo de linguagem era mais presente na fala da jovem sacerdotisa. Era um traço da sua linguagem e se fosse só isso não me incomodaria. Mas, talvez com a intenção de dar mais elegância ao texto, as linguagem rebuscada em alguns trechos acabava me despertando do “transe” que a leitura proporciona quando é fluida.

Fazendo um balanço geral sobre o livro, acho que ele merecia um novo tratamento para concertar as falhas. A premissa é boa, me deixou interessado, os personagens foram bem escolhidos e o mistério é bom. Mas a execução deixou a desejar em alguns pontos. Apesar de todas as coisas que me incomodaram, a minha impressão sobre o livro teria sido muito melhor se não fosse pelo final. Acho que merecia uma melhor explicação obre os fatos que ocorreram e um proposito mais claro.

Algo que conta a favor do livro é que ele ao menos não caiu na armadinha da continuação. É um livro fechado (embora nada tire a possibilidade do autor escrever mais sobre os personagens). Ponto pro Andrio.

Você pode adquirir o livro na página do livro Santuário no blog do autor.

segunda-feira, 24 de março de 2014

A Dança da Morte, de Stephen King



O futuro apocalíptico imaginado por Stephen King me marcou de uma maneira tão profunda que não sei expressar muito bem tudo que senti lendo esse livro em uma simples resenha, certamente A Dança da Morte foi um dos maiores (se não o maior) e melhores livros que já li na vida. Um prato cheio com tudo aquilo que os ávidos leitores do “Rei” mais gostam em suas tramas inteligentes e bem elaboradas. Terror, ficção cientifica, drama, fantasia e de sobremesa um profundo debate filosófico sobre o futuro da sociedade, moralidade, a natureza humana, Deus, e o verdadeiro significado do bem e do mal.

Uma arma biológica, um vírus secretamente estudado em um laboratório, o chamado “Projeto Azul”, escapa do controle do laboratório contaminando todos no local e por uma série de pesquemos acasos acaba escapando para fora e causa um efeito dominó que devasta nada menos que 99% da população mundial. Inexplicavelmente, o vírus, que é bem semelhante ao HIV, não afetou alguns poucos e através de pontos de vista de alguns desses sobreviventes vamos acompanhando a sua jornada na busca de sobreviverem após o fim do mundo.

Bom, até ai parece mais um livro pós-apocalíptico, não? Então o que faz A Dança da Morte diferente de outros livros que tratam de temas semelhantes? Recentemente tive contato com obras parecidas como A Estrada e Eu Sou A Lenda que apesar de serem distintos, no fundo falam da mesma coisa. O diferencial dessa obra prima de King é o fato de não se restringir a apenas ao “fim do mundo”. Depois disso, primeiramente o livro narra a tentativa de reconstrução da sociedade onde questionamentos e discussões filosóficas são oferecidas ao leitor, profundamente de natureza sociológica, claro, mas também sobre a natureza humana. O que realmente é o bem ou mal e como acontecimentos corriqueiros ou até mesmo banais podem moldar as nossas decisões ou nossa personalidade. E mais pra frente o livro se torna um verdadeiro épico de horror, um grande embate entre o bem e o mal no melhor estilo King que é o ponto diferencial dessa obra. Ficção científica, fantasia, drama e horror se misturam em um épico de proporções gigantescas (literalmente) onde o foco final foi a luta entre o bem e o mal, parecido com O Senhor dos Anéis. Inclusive, nesse livro, King faz inúmeras homenagens ao mestre da fantasia, J R. R. Tolkien, citando-o em várias partes do livro.

A Dança da Morte é dividido em três partes. Na primeira, Capitão Viajante, somos apresentados aos personagens centrais e às consequências da epidemia da supergripe causada pelo vírus que escapou do laboratório que também é conhecida como Capitão Viajante. Essa parte então narra como os poucos sobreviventes lidam com catastrófica situação que muda drasticamente tudo ao redor. Aqui é onde King também constrói aquela aura inquietante de terror e sobrenatural que só tende a crescer no decorrer da trama, culminado com cenas de tirar o fôlego, e também apresenta seus personagens centrais, seus dramas e suas histórias o que os torna bastante vívidos. Uma moça grávida, um cantor pop iniciante, um homem taciturno do interior, um velho sociólogo pessimista, um carismático surdo mudo e um retardado muito simpático figuram entre os personagens principais da trama. Uma coisa que achei muito boa foi a evolução destes personagens no decorrer do livro, até alguns dos “malvados” tiveram seus pontos altos.

Na segunda, Na Fronteira, é onde os sobreviventes começam a ter contato mais direto com o sobrenatural, pois todos sonham ou com uma velha e bondosa senhora de 108 anos, Mãe Abagail, ou com o temível homem escuro, o famoso vilão de King, Randall Flagg. Aqui os personagens fazem suas escolhas e partem para a tentativa de reconstruir o mundo. Os “bons” se juntando a Mãe Abagail e os “maus” se juntam a Flagg. Aqui acho interessante mencionar que nem todos são 100% bons ou maus, todos eram acima de qualquer coisa humanos e até mesmo seus líderes, Abagail que representava o bem, e Flagg que representava o mau, tiveram seus momentos de falha. O que King deixa claro também é a questão do livre arbítrio, a maioria sonhava com os dois lados e escolhiam aquele que mais lhe agradasse. Essa segunda parte foi a que teve seus momentos de calmaria, até demais pro meu gosto, algumas passagens foram um tanto chatas e sem propósito definido.

Na terceira, A Resistência, é quando os caminhos se convergem e os dois lados começam a ver um ao outro como uma ameaça para a sua sobrevivência. Essa última parte culmina com cenas emocionantes e surpreendentes. Foi a parte que li mais rápido, em um dia apenas, e depois da leitura respirei fundo e me dei conta de que King conseguiu escrever um livro melhor que O Iluminado, que pra mim tinha sido a melhor obra dele. Alguns podem discordar de mim, mas A Dança da Morte é o melhor livro de King, e quem acompanha A Torre Negra vai encontrar na saga inúmeras referências a esse livro, começado por Flagg.

Algumas partes de A Dança da Morte podem soar meio religiosas, em especial na segunda metade do livro. Mas o que me pareceu foi uma coisa meio dúbia, que ora soava religioso ora profano, bem no estilo King, o que fica bem interessante. Só que Stephen King não escreveu uma obra ateísta ou religiosa apenas levou em conta tudo aquilo que passam por nossa cabeça no que se refere ao sobrenatural, não dando o crédito total à fé religiosa. Toda a trama de terror e drama tem então uma capa religiosa bem trabalhada onde King ousou ao fazer referências claras à Bíblia, do Êxodo ao livro do Apocalipse, sem contar as inúmeras passagens que acompanhamos no decorrer do livro. Faço uma menção honrosa à uma citação do salmo 23 perto do final da parte 3 que me fez chorar horrores!

Por fim, ler a dança da morte foi uma verdadeira viagem. Enquanto lia me senti realmente na companhia desses personagens em sua peregrinação através de um país devastado, onde a aura de morte impregnava tudo. Em sua escrita detalhada King faz com que o leitor sinta tudo no ambiente que cerca seus personagens, bem como experimentar na pele o que eles sentem intimamente. A cena em que Larry Underwood (o cantor), fugindo da Nova York devastada, atravessa o túnel Lincoln, escuro e cheio de corpos em decomposição me deu calafrios. Pude sentir na pele o medo e o pânico de Larry bem como a aura sombria de um local que só cheirava a morte. Isso mostra como King é um verdadeiro gênio da escrita, não só de horror, por que tudo que o cara escreve é muito bom e de uma qualidade sem tamanho! E hoje sem a menor sombra de dúvidas coloco o Rei no topo da lista dos meus autores preferidos.

Esse livro recentemente foi lançado com uma nova capa e letras maiores pela Suma de Letras. As 944 páginas da edição da Objetiva se transformaram em 1248 páginas que assustam qualquer leitor, mas o que aumentou em páginas diminuiu em preço o que antes custava até R$ 100,00 pode ser adquirido por até R$ 67,00 ou por R$ 30,00 na versão digital.

A Dança da Morte teve uma adaptação pra TV datada de 1994 e pode ser encontrado em DVD. Recentemente a Warner anunciou que lançará um filme baseado na obra, mas atualmente está apenas no papel. Fica a torcida para o filme sair o mais breve possível!

Título original: The Stand (1978, 1990)
Tradução: Gilson B. Soares
Editora: Suma de Letras
Páginas: 1248

quarta-feira, 19 de março de 2014

Contos de fantasia brasileiros grátis na Amazon

O mercado de ebooks está a cada dia ganhando mais força. Com isso as editoras estão investindo mais nesse nicho. Uma das estratégias que muitos estão usando para chamar a atenção de seus livros e autores é a disponibilização de livros e contos grátis. 

Aqui reuni três contos grátis de autores brasileiros de fantasia que estão disponíveis na Amazon (precisa ter uma conta pra baixar) junto com pequenos comentários sobre eles. Aproveitem. É grátis e não vai custar nem muito tempo :)

Fui uma boa menina?, de Carolina Munhóz

Um conto de natal sobre uma menina que está se escondendo do pai depois que um terrível acidente ocorre com sua mãe. Nunca tinha lido nada da Carolina Munhóz, que já publicou os livros A Fada, O Inverno das Fadas e Feérica, todos tratando, como esse, obviamente de fadas. O que eu pude perceber após ler esse conto foi o que já desconfiava: eu não faço parte do público para o qual a Carolina escreve. Não gostei do estilo nem na história. Mas acho que quem já leu algum livro dela e gostou deve gostar esse conto.

Os três lobinhos, de Fábio Yabu  

Esse conto é uma amostra do livro de contos Branca dos Mortos e os Sete Zumbis, do Fábio Yabu. O livro tem prefácio de Eduardo Spohr e foi publicado originalmente pela editora Nerdbooks, do site Jovem Nerd, com o Fábio assinando como Abu Fobiya. Entretando recentemente o livro foi republicado por outra editora, a Globo. O conto, assim como todo o livro, reconta os tradicionais contos infantis com uma roupagem mais macabra. Achei o conto bem interessante, embora ele seja mais um tipo de conto explicativo do que uma história em si. Vale a pena, principalmente pra quem está na dúvida sobre comprar o livro. 

Trenzalore, de Jim Amotsu 

O autor de Annabel & Sarah e A Morte é Legal, Jim Amotsu também é fã de Doctor Who e escreveu esse conto como uma homenagem a série de TV. Não é um conto de fantasia nem ficção científica, mas eu o inclui aqui pois foi escrito por um autor de fantasia homenageando uma série de FC. Confesso que nunca assisti a nenhum episódio de Doctor Who, por isso sei que perdi todas as referências sobre a série, mas isso não me impediu de gostar do conto e dos personagens. O autor anunciou em seu twitter que var transformar esse conto em um livro. Quem sabe até lá eu assista a série e consiga entender as referências.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

A Cor da Magia, de Terry Prattchet


O mundo não é redondo mas plano e o sol gira em torno de nós. Na verdade o planeta é suspenso sobre as costas de quatro elefantes gigantescos que sustentam o mundo nas costas de A’Tuin a Tartaruga que carrega o planeta em seu casco enquanto vaga pela imensidão do universo. Isso parece absurdo não? Mas é nesse universo de improbabilidades infinitas que Terry Prattchet narra as mais loucas aventuras do universo do fantástico, em uma série que foge do comum em relação aos livros de fantasia. Bem-vindo ao Discworld, onde o improvável, é mais improvável ainda.

A Cor da Magia tem em seu objetivo central ambientar o leitor no imaginário de Prattchet, e nos mostrar como as coisas funcionam no Discworld, o que não dá muito certo, pois a toda hora você é pego de surpresa com as coisas mais absurdas e hilárias e começa a entender que nada em Discworld segue uma regra, as leis da ciência que se aplicam a nós aqui na Terra não seguem a ordem natural das coisas nesse mundo, a não ser a Octarina, a oitava cor do espectro do arco-íris que está sempre relacionada à Magia.

O livro inicia-se com o incêndio da cidade de Ankh Morpork (uma coisa engraçada no nome dessa cidade, por que em inglês soa como “More Pork”, “Mais Porco”) o que faz sentido, pois é um lugar cheio de feiticeiros, ladroes, espiões, assassinos e trambiqueiros sem o mínimo escrúpulo, onde até as baratas roubam dos ratos. E aqui é onde os nossos protagonistas entram, Rincewind, o mago fracassado que só sabe um feitiço e não se lembra dele, o turista Duasflor, para que tudo está na mais perfeita ordem, a mala-bagagem do turista, cheia de pernas que anda sozinha e morde! E o bárbaro, cheio de músculos e quase sem cérebro Hrun, que compensa a fala de inteligência com um imenso talento para lutas (até dormindo!). Ah, e também o Morte, que apesar de aparecer pouco adorei suas passagens apressadas e bem humoradas no encalço do mago Rincewind. E assim, esse primeiro livro transcorre focando nas desventuras desses inigualáveis personagens ao longo da paisagem fora do comum do Discworld, indo até a Borda do Mundo onde se metem nas mais inusitadas encrencas.

O que mais gostei em Discworld, além de fugir do convencional na fantasia, que é a patota de heróis lutando pra salvar o mundo, foi a maneira como Prattchet usa de situações inusitadas, desde coisas corriqueiras ao desastre iminente pra fazer o leitor se deliciar com o mais fino humor já visto nos livros de fantasia. O leitor realmente ri na cara do perigo em certos momentos. O autor não necessita de lutas épicas para prender o leitor, apesar de fazer isso com maestria em algumas passagens.

A Cor da Magia tem inúmeras criações do autor despejada em suas poucas 231 páginas, o que pode deixar o livro meio confuso, e uma coisa que não curti muito foi a mudança brusca de cenários em alguns momentos. Mas nada disso tira o encanto dessa obra divertida e original. A série tem em torno de 30 livros publicados no exterior, uma pena que aqui no Brasil a Conrad lançou apenas 13 e por alguma infelicidade nem continuou a publicação dos outros e nem relançou as antigas edições que encontram-se esgotadas.

Então, pra quem quiser fugir da mesmice dos livros de fantasia, Discworld é uma boa pedida, é diversão na certa, muitas risadas, situações hilárias e uma história surpreendente o aguarda!

Título Original: The Colour of Magic
Ano: 1983
Editora: Conrad
Páginas: 231

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

O oceano no fim do caminho, de Neil Gaiman


Uma das características que eu mais gosto nos livros do Neil Gaiman é sempre te entregar a fantasia de uma forma natural e progressiva. Em O oceano no fim do caminho também é assim. 

No prólogo somos apresentando a um homem de meia-idade, narrando o dia do funeral de alguém da família. Sem saber direito o motivo de estar fazendo isso, ele acaba indo parar em uma velha fazenda vizinha a sua casa de infância, onde tinha uma amiga. Lá, nas margens de um lago, ele volta a se lembrar de eventos da sua infância. Essas lembranças formam a parte principal da trama. 

Quando era uma criança, um homem roubou o carro de sua família se matou nele, no fim da estrada da fazenda. Esse evento acabou perturbando forças estranhas e elas precisam ser controladas. Littie Hempstock, uma garotas que parece ter muito mais que onze anos, jura protegê-lo, mas nem tudo sai como planejado. 

O livro é narrado em primeira pessoa, mas achei curioso que o nome desse personagem só é citado bem mais pro final do livro, tão repentinamente como se já soubéssemos e não fosse uma informação relevante. 

Achei todos os personagens do livro deixam sua marca, seja por empatia ou antipatia. As três mulheres Hempstock, a avô, a filha e a neta, são o destaque do livro. Envolta em seus mistérios elas transmitem uma grande segurança e sabedora e são elas as estrelas da trama. 

O livro pode também promover um pouco de reflexão sobre nós mesmos,as consequências de eventos da infância na vida adulta, nossos medos, e os perigos de se estar vivo. 

Já no epílogo, voltamos para às margens do lago. As lembranças terminaram e o personagem-narrador precisa voltar ao funeral. É ai que entendemos as marcas que esses eventos da infância deixaram no personagem. 

Como sempre, Gaiman não decepciona. É uma trama enxuta e limpa. Não é um épico e não tenta ser um épico, mas são justamente esse tipo de livros que eu tenho mais apreciado ultimamente. E Gaiman faz isso sempre com muito talento.

Título: O oceano no fim do caminho
Título original: The Ocean at the End oh the Lane, 2013
Autor: Neil Gaiman
Ano: 2013 
Páginas: 208
Editora: Intrínseca 
Tradução: Renata Pettengill 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Coração de tinta, por Cornelia Funke


Qual leitor nunca sonhou em conhecer pelo menos um dos personagens de algum dos seus livros favoritos? Eu por exemplo poderia citar uma lista interminável de nomes, mas infelizmente não conheço nenhum língua encantada para dar vida a algum deles. Meggie por outro lado é uma menina de sorte, seu pai um exímio encadernador chamado Mo possui uma incrível habilidade. Todas as vezes que ele lê um livro em voz alta algum personagem ou objeto acaba saindo das páginas e ganha vida no nosso mundo. Com toda certeza é um dom extraordinário, mas como tudo nessa vida tem um preço, todas as vezes que Mo tira algo do livro acontece uma troca e um objeto ou pessoa do mundo real acaba sendo sugada pra dentro da história.

Numa noite quando Meggie ainda era um bebê, Mo decide ler um livro chamado Coração de tinta e acidentalmente traz de lá o detestável vilão Capricórnio, seu comparsa Basta e um domador de fogo chamado Dedo empoeirado. No lugar dos três personagens a mulher dele, Teresa, entra no livro. 

Nove anos após o ocorrido ele e sua filha Meggie levam uma vida aparentemente normal até que do nada surge um visitante inesperado querendo conversar com Mo. Meggie nunca desconfiou de nada a respeito do desaparecimento de sua mãe e nem sobre o dom especial de seu pai, mas quando esse visitante surge ela começa a perceber que segredos estão sendo guardados dela a muito tempo. O visitante é Dedo empoeirado e veio alertar Mo sobre os planos malignos de Capricórnio que com o passar dos anos se fortaleceu e montou uma base quase militar no nosso mundo e agora desejava utilizar os poderes de Mo para trazer riquezas e outras coisas assustadoras de dentro dos livros. Com o intuito de proteger Meggie de toda essa história, Mo se vê forçado a fugir e acaba indo para a casa da tia de sua mulher, uma velha colecionadora de livros chamada Elionor.

Com toda essa trama montada a história se desenvolve num ritmo bom, nada de cansar o leitor com passagens cansativas e massantes. Cornelia Funke conduz seus personagens de uma maneira bem gostosa de ser lida. O desespero de querer voltar para casa de Dedo empoeirado, a ganancia por poder e riquezas de Capricórnio, a determinação de Mo para encontrar sua esposa e manter a filha a salvo e a curiosidade e bravura de Meggie são fundamentais para o desenrolar dos fatos e a cada final de capítulo somos surpreendidos com reviravoltas que não nos dão nenhuma dica do que vai acontecer a seguir. O livro faz parte de uma trilogia intitulada Mundo de tinta. Muitas coisas ainda estão por vir nessa história maravilhosa e eu não vejo a hora de virar a última pagina do terceiro e último volume.

Mais do que uma bela história de fantasia muito bem construída esse livro é uma declaração de amor pelos livros e pela leitura, a todo momento existem passagens que indicam isso. Ler algo que fale sobre esse tema para um leitor é algo encantador. Vale muito a pena embarcar no mundo de tinta de Cornelia Funke.

"O ofício de escrever historias tem algo a ver com a magia." - Cornelia Funke.


Titulo: Coração de tinta
Titulo original: Tintenherz
Autor: Cornelia funke
Ano: 2006
Páginas: 455p.
Editora: Cia. Das Letras
Tradução: Sonali Bertuol



quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A Hora das Bruxas vol. II, de Anne Rice

A Hora das Bruxas vol. II, de Anne Rice - Fantasia BR

Dando continuidade aos eventos iniciados em A Hora das Bruxas I, onde o foco principal era narrar a história da família Mayfair, suas tragédias, triunfos e loucuras, sempre envolta em um mistério sobrenatural, Anne Rice encerra com chave de ouro a primeira parte da saga das Bruxas Mayfair, com uma narrativa envolvente e uma trama bastante criativa.

O segundo volume ainda apresenta suas páginas iniciais dedicadas aos extensos arquivos das Bruxas Mayfair, nos apresentando a história da bruxa mais atual, Rowan Mayfair, que é o foco deste segundo volume, a 13ª herdeira do Legado Mayfair e a bruxa mais poderosa que já surgiu na família. Rowan é uma mulher determinada, inteligentíssima, dona de uma certa frieza, confiança e possui um poder jamais visto nas suas antepassadas um poder sobrenatural e assustador. Depois da posse do Legado e de ter descoberto a história de suas antepassadas, Rowan tem a missão de aceitar ou recusar todas as imposições do Legado que incluem ele... Lasher. E a terrível escolha que terá de fazer entre o seu amor por Michael Curry ou as palavras sedutoras e as promessas duvidosas de Lasher.

Sem dúvidas o personagem que mais me chamou a tenção desde o início do volume I foi Lasher, o espirito demônio que está intimamente relacionado com todas as coisas sobrenaturais que cercam os Mayfair. Me pegava esperando ansiosamente por suas aparições que sem dúvidas deixam o livro mais interessante. Você não sabe a natureza dessa criatura, o que ele é, qual seu objetivo ao certo ou até mesmo se ele é bom ou mau. Lasher tem uma aura sedutora e uma sutileza incrível que até você, leitor, é seduzido por suas palavras, sem dúvidas esse personagem foi uma das maiores criações de Anne Rice.

A parte que envolve os arquivos das Bruxas foram bem interessantes e sombrias no decorrer do volume I, porém nesse segundo achei a história meio repetitiva o que deixou o livro meio cansativo no começo. Senti um enorme alívio ao termina-los. Assim que terminam os arquivos a trama evolui bastante e o livro se torna um verdadeiro trilher de suspense e terror com cenas de deixar os seus cabelos em pé. A narrativa de Anne Rice é pesada e detalhada ao extremo, mas tem um efeito quase que narcótico e é viciante. Acho legal o jeito que ela escreve, pois apesar de ser muito detalhista ela sabe descrever bem o ambiente, as situações e os personagens o que enriquece a imaginação do leitor.

Basicamente o livro gira em torno das dúvidas e mistérios sobre Lasher, as imposições do Legado a Rowan e as visões de Michael que é um dos grandes mistérios da trama, aqui você acha que tem uma ideia de como o livro termina mas o final é tipo “What the Fuc%#@?”. Anne Rice realmente surpreende. Ai chegamos no que me desanimou no final, são quase mil páginas esperando uma revelaçãozinha e a autora despeja tudo de uma vez e não, a história aqui só começou! Quer ver o desenlace desse rolo todo? Leia Lasher, o próximo livro da série, e cá entre nós não é pra qualquer um adquirir um livro da Rice que são bem caros e esse não foi publicado ainda naquelas edições furrecas da Rocco, que foi de onde consegui ler A Hora das Bruxas.

Fora algumas cenas de sexo que achei exageradas, beirando a boa e velha pornografia que foram desnecessárias, o lenga lenga no início, alguns fatos repetitivos e um final sem final eu amei A Hora das Bruxas, pra mim é o melhor livro da Anne Rice. Li o volume II em cinco dias o que foi uma grande evolução levando em conta que demorei quatro meses pra terminar o volume I. O livro é muito bem escrito e é daquele tipo de história que, se você curtiu mesmo, não esquece fácil. Algumas cenas ficam realmente gravadas na memória. Como disse antes, Anne Rice não é pra qualquer um ou você adora ou odeia e é aqui, em As Bruxas Mayfair, que ela destrincha todo o seu talento em descrever minúcias. Portanto, se você ainda não leu algo mais “leve” da autora procure outra coisa pra ler antes de conhecer a família Mayfair!

Título: A Hora das Bruxas vol. II
Título original: The Witching Hour, 1990
Autor: Anne Rice
Ano:1994
Páginas: 490
Editora: Rocco
Tradução: Waldéa Barcellos

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Especiais, de Scott Westerfeld

Especiais Scott Westerfeld Fantasia BR

Finais de séries sempre são complicados. Não tem como não criar expectativas, ter nossos palpites e coisas do tipo. Com essa série não foi diferente. É impossível agradar todo mundo. Mas para minha sorte esse foi um final muito digno para um série significativa.

Acho que não preciso avisar que tem spoilers dos livros anteriores, né?

Depois que Tally Youngblood se transformou em uma Cortadora – um grupo de elite de Especiais – ela está mais uma vez sob controle da Dra. Cable e da cidade. Embora possa desfrutar de alguma liberdade e de um corpo com capacidades sobre humanas ela é novamente uma prisioneira mental.

Mas Tally nunca foi o tipo normal de pessoa. As recordações do passado ainda mechem com ela, o que não deveria acontecer.

Tally e Shay e os outros cortadores descobrem que enfumaçados estão contrabandeando para dentro de Nova Perfeição comprimidos de cura para as lesões cerebrais que os perfeitos sofrem durante as suas cirurgias. Através dessa descoberta elas bolam um plano para descobrir onde fica a cidade de Nova Fumaça e assim poderem enfim acabar com a ameaça dos enfumaçados. Como era de se esperar o plano é muito arriscado e envolve quebrar muitas regras e por muitas pessoas em perigo.

É certamente um livro diferente dos demais. Aliás essa é uma característica de toda a série. A cada livro a história muda de cara assim como a protagonista. Tally passou ao logo da série por inúmeras transformações não só físicas, mas principalmente internas e sentimos isso nitidamente na narrativa.

Cada umas dessas transformações deixou sua marca e não têm como Tally voltar a ser a mesma menina inocente de antes. Tally agora é uma mulher e precisa decidir como agir e não apenas ser mais uma vítima das consequências. Depois de passado o tempo de incertezas ela finalmente é obrigada a fazer suas escolhas definitivas e surpreende todo mundo.

Eu mesmo não esperava por esse final, mas ele foi totalmente coerente com a proposta do autor para a série. Na verdade, na minha opinião, foi a melhor escolha, e demostra como a Tally amadureceu, embora possa te deixar com uma estranha sensação de que talvez não tenha sido um final totalmente feliz.

Ao logo do livro finalmente o mundo como um todo vai sendo mais explorado e conhecemos melhor como as coisas funcionam em um escala maior. Era uma coisa que eu esperava muito e finalmente me senti satisfeito.

Especiais, como toda boa distopia, assim como os livros anteriores, está cheio de analogias e críticas a nossas sociedade. Mais nesse, além disso, traz também no eu fim uma esperança e uma mensagem bem clara.

Ainda existe mais um livro na série, chamado Extras, mas que não mais acompanha a história de Tally, mas de outros personagens dentro do mesmo universo ficcional criado pelo autor.

Título: Especiais

Título original: Specials

Autor: Scott Westerfeld

Ano: 2011

Páginas: 351

Editora: Galera Record

Tradução: André Gordirro

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Os Videntes, de Libba Bray


Dons sobrenaturais, assassinatos macabros, personagens incríveis e Nova York nos anos 20. Tudo isso e muito mais compõe a trama instigante e deliciosa criada pela escritora Libba Bray nesse livro que entrou para a lista dos meus livros prediletos.

Os videntes foi uma grata surpresa pra mim que não esperava tanto desse livro. Eu tinha lido sobre ele a muito tempo atrás e cheguei até a esquece-lo, então do nada ele surgiu na minha frente numa livraria qualquer e tive que aproveitar a oportunidade. Passei essa obra na frente de muitas outras que estão esperando ansiosamente que eu as leia, mas não me arrependi nem um pouco disso, afinal de contas eu fui sugado do meu tempo e cai nos anos 20 em plena Nova York, cidade dos contrabandos, dos bares ilegais, dos cinemas espetaculares e da diversão sem limites numa época onde a diversão era  muito mais valorizada do que nos dias atuais. Adoro livros que me fazem sair do lugar onde eu estou e esse com certeza tem essa capacidade. Libba Bray escreve brilhantemente bem. Foi meu primeiro livro da autora mas o bastante pra me tornar um fã.

A principio eu pensei que a história iria girar em torno de uma personagem apenas, pois os primeiros capítulos são voltados para a vida da jovem Evie O'Neil que foi exilada da sua cidade natal por não se comportar conforme mandava o figurino e acabou sendo mandada para Nova York onde iria passar a morar com o seu excêntrico e misterioso tio Will, mas no decorrer dos capítulos, vamos sendo apresentados a personagens chaves para toda a historia e todos eles incluindo Evie tem algo em comum: dons especiais dos quais eles não gostam muito de falar. Com isso vamos descobrindo bem aos poucos sobre os dons e sobre o passado de cada um. No meio de todas essas histórias uma serie de assassinatos macabros com uma pitada de simbolismo antigo e rituais maléficos começam a acontecer na cidade e como o tio de Evie é um grande estudioso do sobrenatural a policia local pede seu auxilio nesse caso que parece ser impossível de solucionar.

Evie é uma mulher a frente do seu tempo, moderna e bem divertida, sempre esta atrás de diversão e experiencias novas, quando a policia chama seu tio para ajudar no misterioso caso ela não perde tempo em ir atrás deles apenas para poder contar para o povo atrasado e antiquado da sua cidade como ela esta levando uma vida muito mais animada em Nova York, mas essa sua decisão acaba se mostrando bem perigosa quando acidentalmente ela usa o seu misterioso dom na cena do crime. Ela acaba se tornando a pessoa que tem mais pistas do assassinato e não sabe como lidar com isso.

Todos os dons parecem estar conectados de alguma forma, mesmo que sejam bem distintos uns dos outros, cada um desses personagens parece estar conectado por essa linhagem sobrenatural. Entre vislumbrar o passado apenas tocando objetos e curar doenças apenas com o toque das mãos, essas pessoas que tentam levar uma vida comum sempre acabam por se envolver em histórias perigosas. Não tem como escolher apenas um desses personagens como o predileto, é claro que Evie é a que mais chama a atenção mas os outros não ficam de lado, cada um tem uma personalidade incrível que fisga o leitor de uma forma única.

Esse livro faz parte de uma serie de livros intitulada Dinivers e não há ainda uma previsão sobre o lançamento da sua sequência aqui no Brasil. Sei que no meio de tantas series iniciadas surge aquele receio de começar mais uma, mas esse livro é tão bom que vale a pena.

Os direitos de adaptação do livro já foram comprados pela Paramount. Só me resta esperar que seja uma adaptação digna dessa história incrível e surpreendente.

Titulo: Os Videntes
Titulo original: The Diviners
Autor: Libba Bray
Ano: 2012
Páginas: 567p.
Editora: Id
Tradução: Mariana Zambon


quarta-feira, 13 de novembro de 2013

O Pistoleiro: A Torre Negra vol. I, de Stephen King

O Pistoleiro A Torre Negra vol 1

Roland Deschain é o último pistoleiro, vindo de um mundo devastado esse enigmático personagem inicia neste primeiro volume, de uma série de 7 livros, sua peregrinação em busca da lendária Torre Negra, um lugar místico que controla todo o Tempo e Espaço, a única coisa capaz de restaurar seu mundo.

O livro inicia-se em uma paisagem desolada que dá aquela sensação de tristeza e abandono, mas que encanta ao mesmo tempo, e é aqui que nos deparamos com Roland no encalço do Homem de Preto, uma espécie de feiticeiro que tem muitas respostas ás suas perguntas sobre sua busca pela Torre. No caminho, através desse mundo estranho, desértico e cheio de elementos fantásticos Roland se depara com alguns obstáculos e a trama possui também alguns flashbacks que dão algumas poucas revelações sobre o passado do pistoleiro. As poucas aventuras no decorrer do livro são de tirar o fôlego como a passagem de Roland pela cidade de Tull, que teve um desfecho incrível, surpreendente e com muita ação (foi minha passagem favorita) e também o encontro do pistoleiro com o garoto Jake (um personagem de extrema importância na série) que foi um tanto dramático.

Não há muito o que comentar em relação ao primeiro livro de A Torre Negra. Uma palavra resume a maior parte dele: confuso! Mas isso não quer dizer que o livro é ruim, muito pelo contrário. Uma coisa que King faz com o leitor aqui: simplesmente o joga em um mundo totalmente estranho, com um personagem extremamente enigmático com um proposito meio sem fundamento e maluco em mente que é encontrar a maldita Torre. A impressão que se tem de O Pistoleiro é que ele não é nada mais que um imenso prólogo para o que verdadeiramente te espera nos volumes seguintes da série. Pois a partir do capítulo final você começa a enxergar o propósito da história e que rumo ela deve tomar a partir de então. Mas, mesmo assim o leitor ainda se sente meio perdido. Por isso, a meu ver, A Torre Negra não é recomendada para leitores que não conhecem Stephen King. Se nunca leu nada dele não comece por essa série.

King é sutil em sua maneira de contar uma história, nada de entregar tudo de mão beijada de uma só vez, ele gosta de brincar com o leitor o seduzindo aos poucos seja com uma violenta cena de ação, algumas revelações surpreendentes e pequenos dramas ao longo da trama. E o que sei sobre A Torre Negra é que se trata de uma LONGA história dividida em sete volumes e o mundo fantástico que serve de pano de fundo para a série é, segundo o próprio King, seu próprio mundo imaginário onde ele criou grande parte de suas histórias.

Então se leu O Pistoleiro e esperava mais como eu, espere pois o que é bom de verdade começa a partir do volume dois, A Escolha dos Três, que espero resenhar em breve. Então até lá e Longos Dias e Belas Noites!

Título: O Pistoleiro: A Torre Negra vol. I

Título original: The Gunslinger

Autor: Stephen King

Ano: 2004

Páginas: 224

Editora: Suma de Letras

Tradução: Mario Molina

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Wild Cards – O Começo de Tudo, edit. por George R. R. Martin

Wild Cards - Livro 1, O Começo de Tudo, George R.R. Martin

Já comecei esse livro com uma pequena suspeita de que talvez essa coisa de uma mesma história contada por tantos autores em contos diferentes talvez não deixasse o efeito muito bom. Engano meu.

Ser exposto a tantos autores diferentes deixou a história, de uma modo geral ainda mais interessante na medida em que cada autor, imprimindo um pouco de sua personalidade aos personagens de seus contos, tornou mais “realista” as mudanças de pontos de vista. Isso só enriqueceu a obra.

Mas eu também me peguei perguntando como o esquema de produção do livro funcionou. São treze autores, mas os contos estão muito bem sincronizados entre si, com personagens de um conto aparecendo em outros de uma maneira bem natural. Fiquei imaginando como o Martin fez isso funcionar, se ele trocava os contos entre os autores, se ele determinava o enredo das histórias... Mas o importante é que o livro todo é bem executado, eu garanto.

A história gira em torno de um vírus alienígena que, nada acidentalmente, cai na terra e depois de alguns acidentes infelizes acaba se espalhando por Nova York mantando muitas pessoas e mudando algumas poucas. Dentre as que sobreviveram, as que não se transformaram em coisas grotescas, que foram apelidadas de coringas, desenvolveram poderes sobre-humanos e foram batizados de azes.

Eu sei que você pode estar se perguntando “mutantes tipo X-Men?”. A resposta é com certeza não. Tá mais pra “mutantes tipo Heroes (a série de TV)”. Eles inicialmente são pessoas totalmente comuns, algumas até ordinárias, que passam a desenvolver algum dom extra-humano, ou meta-humano como alguns gostam de dizer.

Duas coisas me chamaram a atenção ao longo do livro. <Spoiler> Quase nenhum protagonista era coringa e os finais eram felizes ou o mais próximo disso. Acho que isso é até bom, pois parece que a maioria dos autores que vejo por ai tendem a dar finais trágicos para seus contos. Mas ainda assim queria ver mais da história por trás dos olhos dos coringas <Fim do spoiler>.

O livro termina deixando no ar algumas coisas para serem exploradas mais adiante por alguns personagens que, imagino, vão ser recorrentes ao longo da série.

O próprio Martin só escreveu um conto, se você não contar a introdução e os interlúdios que são escritos em estilo jornalístico. Mas incrivelmente foi um dos contos que eu menos gostei.

Outra coisa que me chamou atenção foi o fato de que, dos treze autores que têm contos no livro, apenas três são mulheres, mas só há dois contos protagonizados por personagens femininos. Não é nenhuma crítica, só uma coisa que acabou me chamando atenção. Acho que pelo fato de eu gostar muito de fantasia e ficção científica escrita por mulheres, e com os contos desse livro não foi diferente. Ritos de degradação, de Melinda M. Shodgrass, e A garota fantasma conquista Manhattan, de Carrie Vaughn, estão entre os meu favoritos.

Eu quero também destacar o conto O dorminhoco, de Roger Zelazny, que foi o meu favorito desse livro e também de onde saiu o meu personagem favorito do livro, que faz várias aparições nos outros contos e espero que seja ainda mais utilizados nos próximos livros.

O livro é praticamente todo ficção científica, pois as explicações para os poderes são de origem genética, mas isso não restringe nada. Às vezes os autores dão uma flertada com o fantástico e o terror sem causar nenhuma estranheza, pois afinal, antes de tudo, é um livro sobre super-heróis. Ou seja, você pode esperar um pouco de todos os gêneros.

domingo, 14 de abril de 2013

O Orfanato da Srta. Peregrine para crianças peculiares, de Ransom Riggs

O Orfanato da Srta. Peregrine

 

 

“A composição da espécie humana é infinitamente mais diversa do que a maioria dos humanos suspeita.” (Pag. 144)

Existem os humanos comuns que são a maioria e existem aqueles chamados de peculiares por possuírem habilidades incomuns e surpreendentes. Meio X-men não é? Bom eu não compararia essa historia a nada apesar de abordar um tema meio clichê, a trama é original e te prende desde a capa até o comentário do grande Tim Burton nas costas do livro.

“Vocês têm certeza de que não fui eu quem escreveu esse livro? Parece algo que eu teria feito...” (Tim Burton)

Ransom Riggs criou personagens interessantíssimos e misteriosos, a começar pelo seu protagonista Jacob que cresceu ouvindo historias bem fantasiosas de seu avô sobre uma ilha magnífica onde existia um orfanato especial que abrigava crianças com super poderes e eles viviam em paz e harmonia vigiados pelo olhar protetor da Srta. Peregrine. No inicio quando Jacob era apenas uma criança foi muito fácil acreditar em todos aqueles contos fabulosos, mas com o passar dos anos seus pais foram abrindo seus olhos para a terrível verdade por traz do passado sombrio de seu avô que é um sobrevivente da segunda guerra. Agora com seus 16 anos ele tem certeza de que tudo não passava de alucinações criadas pela mente perturbada de um velho homem a beira do declínio. Mesmo com a descrença de todos, o velho Abraham continua sempre afirmando que suas historias são reais. Então numa noite Jacob recebe um telefonema desesperado de seu avô que muda toda a sua vida para sempre. Com Abraham morto e palavras sem sentido ditas na sua hora derradeira, Jacob parte numa busca pela verdade e acaba indo parar na tal ilha misteriosa onde começa a ter respostas surpreendentes sobre a vida de seu avô. Seria tudo verdade ou parte de uma loucura sem limites?

O modo como a realidade se funde ao irreal nesse livro é encantador e alguns assuntos como confiança, relações entre pais e filhos e a dificuldade de aceitar e entender o desconhecido são tratados de uma forma sutil durante toda a história de Jacob. Com certeza foi a leitura mais diferente que fiz esse ano, pois durante todo o livro existem fotografias antigas que auxiliam o entendimento da história e tornam a trama muito mais interessante. Fiquei muito surpreso com o rumo que tudo seguiu apresentando vários ganchos para uma possível continuação que eu espero sinceramente que não demore a sair. Um livro cativante, envolvente, assustador em certas partes, divertido em outras e acima de tudo fantástico!

 

Título: O orfanato da Srta. Peregrine para crianças peculiares

Título original: Miss Peregrine’s: home for peculiar children

Autor: Ransom Riggs

Ano: 2012

Páginas: 335p.

Editora: Leya

Tradução: Edmundo Barreiro e Marcia Blasques

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Bento, de André Vianco

General b2winc

E se de repente você acordasse em um hospital sem lembrar-se de nada da sua vida? E que o mundo foi dominado por vampiros e que os humanos agora estão confinados em pequenas comunidades de sobreviventes? Isso é o que acontece com Lucas, no livro Bento de André Vianco. E mais, ele descobre que faz parte de um pequeno grupo que tem uma estranha e inexplicável habilidade contra os vampiros. Lucas é um Bento. Mais que isso, ele é o trigésimo Bento, o que significa que ele deve liderar os outros para a libertação dos humanos.

Depois de muitos livros com vampiros bonzinhos, foi um tremendo alivio ler esse livro, com vampiros assassinos e sedentos por sangue. Não que eu não goste dos outros, mas esses não muito mais o meu estilo.

O livro dá a oportunidade de vermos essa luta entre humanos e vampiros de diversos ângulos, ao apresentar diferentes personagens. Acompanhamos também o lado dos vampiros, que também passam a ter suas próprias profecias.

Na apresentação do passado de alguns personagens, temos uma ideia de como foi A Noite Maldita, o dia em que os vampiros começaram a se transformar e muitos humanos caíram em um longo coma. Mas o foco desse livro não é explicar como as coisas começaram, mas como os humanos vão derrotar os noturnos.

Lucas inicia uma jornada, com seus companheiros, por um Brasil dominado pela vida selvagem. As grandes cidades agora não passam de ruínas e as noites são dominadas pelos vampiros. A comitiva enfrenta perigos a cada passagem, e o sucesso parece incerto.

Ao iniciar a narrativa algo me incomodou imediatamente. Ainda não tinha lido nenhum outro livro do Vianco, mas percebi logo que ele adora pontos finais. Depois de um tempo o meu cérebro passou a substituir automaticamente os pontos por vírgulas para deixar a leitura mais fluida.

Outro aspecto que me incomodou um pouco foi certos personagens, que para mim pareceram estereotipados demais. Desses, o que mais me incomodou de uma forma geral foi o Bispo, um nordestino com sotaque carregado e expressões tradicionais.

A leitura por vezes me deixava cansado e eu não pude fazer grandes avanços por conta do tipo de papel do livro, branco. O papel branco sempre incomoda meus olhos e me impede de ser mais rápido.

No final, senti um grande pulo na narrativa. Depois do clímax, vem uma explicação do que ocorreu depois que não me agradou como leitor. Prefiro sempre “ver” ao invés de “me contarem”. Mas ai você percebe ainda há muita coisa pra explicar. É que esse só é o primeiro de uma série, que continua com O Vampiro Rei Vol. 1, que mudou de nome para Cantarzo, e termina em O Vampiro Rei Vol. 2, que mudou de nome para Bruxa Tereza, em edições recentes.

Título: Bento
Autor: André Vianco
Ano: 2003
Páginas: 517
Editora: Novo Século