quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Doutor Sono, de Stephen King



O Iluminado é, sem a menor sombra de dúvidas, um dos meus livros favoritos do Stephen King perdendo somente (por enquanto) para A Dança da Morte. Então imagina só a minha ansiedade para ler Doutor Sono e descobrir o que aconteceu com Dan Torrance e que novas surpresas ele poderia nos mostrar! E em meio as altas expectativas, medo de me decepcionar com uma sequencia tão esperada como esta, King não me decepciona e nos entregou uma sequência digna, profunda e por que não emocionante? 

Mesmo mais de 30 anos após escrever sobre as desventuras da família Torrance no Hotel Overlook, King não erra a mão e é evidente os laços profundos que une as duas obras quase que tornando-as uma só. Em Doutor Sono vemos Dan Torrance, já um homem de meia idade, lutando para controlar um demônio interior, o mesmo demônio que perseguiu seu pai e que o destruiu: o alcoolismo. Mesmo atormentado pelos horrores do passado ele tenta descobrir seu lugar no mundo e está determinado a não se tonar o que seu pai acabou tornando-se. Assim ele acaba indo parar em uma cidade onde entra para o AA. Lá começa a trabalhar em um asilo para pacientes terminais onde ganha a alcunha de Doutor Sono, por utilizar seus poderes de iluminado para dar conforto às pessoas na hora da morte, tornado este momento menos doloroso. 

Próximo dali há uma criança, Abra Stone, que possui um poder de iluminação nunca antes visto, mais forte que o do próprio Dan. Isto acaba por atrair certas criaturas maléficas que se alimentam deste tipo de dom, chamados O Verdadeiro Nó, e Dan vai fazer de tudo para proteger Abra destas criaturas maléficas. 

Se existe um tema que define cada obra do King creio que Doutor Sono fale sobre redenção, enquanto que  O Iluminado falava sobre família e responsabilidade. Neste livro vemos Dan, que apesar de ter herdado o alcoolismo do pai, está determinado a ser uma pessoa boa e não se deixar consumir pelos impulsos destrutivos que acompanham sua família. Vê também na defesa de Abra uma forma de se redimir não só por ele, mas pelo pai e uma maneira de se livrar de todos os demônios interiores que sempre o atormentaram.

Uma das coisas também que mais gostei em Doutor Sono foi a escrita do King, que nunca esteve tão fluida, clara, leve e sem enrolação. Cheguei a ler mais de sessenta páginas sem cansar nem um pouco. Também as tramas dos dois livros ficaram bem amarradas, com os núcleos de Dan e Abra se interligando de uma maneira tão precisa que chego a considerar este livro um dos mais bem escritos do King.

Gostei muito do início do livro se dedicar a mostrar Dan ainda criança e aprendendo a controlar seus poderes e a como se desviar dos demônios do Overlook que ainda o perseguiam. Só achei que o King poderia mostrar mais um pouco da Wendy, pois foi uma das personagens mais marcantes de O Iluminado

Achei a trama envolvendo O Verdadeiro Nó bastante interessante, porém não era isso que mais me prendia no livro. Me envolvi muito mais com os dramas do Dan e a relação dele com a Abra. É tanta que achei o  vilões muito fracos. E Rose, a cartola, que tinha tudo para ser uma vilã marcante, furiosa e sanguinária, praticamente não se move.

Uma das melhores partes do livro é o final, cheio de reviravoltas e boas surpresas. Aqui King engana o leitor direitinho. O desfecho é emocionante e com diálogos muito bons e dá aquele gostinho de quero mais.

Apesar de ter amado Doutor Sono ele não se equipara a O Iluminado, onde a atmosfera tensa, o terror psicológico e a narrativa assustadora tornam o livro inigualável. Doutor Sono não tem quase nada disso. Este foi o primeiro dos lançamentos mais recentes do King que li e achei inúmeras referências às coisas que conheço como Harry Potter, Game of Thrones e até Crepúsculo!

Enfim, se está com receio de ler este livro com medo de se decepcionar, vá fundo, ele é muito bom. Só não espere nenhum novo Iluminado e com certeza você vai conseguir apreciar a obra. 

Título original: Doctor Sleep, 2013
Tradução: Roberto Grey
Editora: Suma de Letras
Páginas: 475

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Mais uma lista de livros


O ano de 2015, para mim, foi um ano de poucas leituras. Afinal, mudei de cidade, de Estado, de vida... Enfim, estou me adaptando ainda. Mas, em meio à parcas leituras me aventurei em alguns romances que acho digno compartilhar com vocês. Aqui vai:

Direitos Iguais, Rituais Iguais - Terry Pratchett: Terry Pratchett se foi este ano e com certeza deixou uma legião de fãs dos Discworld em prantos e saudosos de suas loucas e divertidas fábulas de fantasia. Comecei a série Discworld há algum tempo e esta foi a minha quarta aventura no Mundo do Disco. Adorei este, apesar de ter achado o mais fraco da série até onde li. Acho muito legal a maneira como Pratchett utiliza a fantasia e a aventura para nos fazer chorar de rir. Seus personagens são marcantes e hilários e o livro ainda traz uma pitada de crítica social. Afinal, por quê homens só podem ser magos e as mulheres só bruxas? Direitos iguais para todos né?


Quatro Estações - Stephen King: Não é novidade para ninguém que Stephen King é o meu autor favorito. E em Quatro Estações ele me surpreendeu mais uma vez. Neste romance de quatro contos, King foge de sua zona de conforto e escreve dramas profundos que conseguem nos tocar verdadeiramente. Mas nem por isso o livro não tem um quê de suspense, como no conto Aluno Inteligente (meu favorito do livro) e uma pitada de sobrenatural em O Método Respiratório, que me deu calafrios no final! Os outros contos também são marcantes e originaram dois dos meus filmes favoritos Um Sonho de Liberdade e Conta Comigo.
Filme Conta Comigo (Stand by Me, 1986)
Filme Um Sonho de Liberdade (The Shawshank Redemption,1994) 
Caixa de Pássaros - Josh Malerman: Este romance de estréia de Josh Malerman foi uma das melhores surpresas literárias que tive nos últimos anos. O livro é intenso, perturbador e foge um pouco do lugar comum das histórias pós apocalípticas e de terror. O autor consegue brincar com os seus sentidos e a história se torna angustiante (não em um sentido muito ruim) e faz você se transportar para dentro da trama e sentir os dramas e os medos da personagem principal. Este livro vale muito a pena!


 A Torre Negra vol. VII - Stephen King:  Comecei A Torre Negra em 2012. E entre livros que amei de coração e outros que odiei profundamente, cheguei a este volume final que ficou entre muito bom e "mais ou menos". Achei que a série se perdeu entre o volume IV e este último. Em muitos momentos tive a sensação que King perdeu o fio da meada e a trama ficou muito confusa e teve muitas partes maçantes que eram pura encheção de linguiça. Mas focando neste volume final, acho que King se redimiu um pouco e nos entregou um livro mais coeso e fiel com a proposta do início da série. Só achei o livro um pouco lento e o final de alguns personagens foram bem ruins. Mas a conclusão da série foi de dar uma dor no coração, mas como disse achei coerente e digno para a série.


O Silêncio dos Inocentes - Thomas Harris: Não é um livro que se insere no gênero "Fantástico" mas merece figurar nesta lista por ter sido uma das melhores leituras do ano para mim. Achei o livro genial. A escrita do Harris é deliciosa e sem contar a presença de um personagem que você consegue amar e odiar ao mesmo tempo, o famoso Dr. Hannibal Lecter. O livro não chega a ser um suspense como qualquer outro, afinal, você sabe que é o assassino desde o início. Mas a maneira como os acontecimentos se desdobram em thriller psicológico perturbador e culminam com um final surpreendente é fantástico. Assisti ao filme logo depois e achei Antony Hopkins como Hannibal mais aterrorizante que no livro!

Filme O Silêncio dos Inocentes (The Silence of the Lambs, 1991)

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

O Pacto/Amaldiçoado, de Joe Hill



Sabe aqueles livros que todo mundo fala super bem e que você não vê a hora de ter eles na mão para ler logo? Pois é, O Pacto, escrito pelo filho do renomado escritor de terror e suspense Stephen King, Joe Hill, era um desses livros que sempre figuraram na minha lista de desejados por ser tão bem criticado pelos leitores. Porém, tive sempre um certo receio de adquirir ele por não ter gostado tando assim de um outro livro dele "Heart-shaped Box" (Sim, igual aquela música do Nirvana) traduzido aqui no Brasil como "A Estrada da Noite". O fato é que consegui ler o livro por meio de um grupo muito legal que encontrei na internet, com pessoas muito bacanas e sem neuras que emprestam seus livros mesmo a gente morando a quase 2.000 km de distância! E olha a surpresa: odiei o livro!


A narrativa central de O Pacto gira em torno de Ignatius Perrish que foi acusado de estuprar e matar a namorada, Merrin, mas por falta de provas nunca foi preso. Daí um belo dia o cara acorda com chifres (o título original é Horns = chifres) na cabeça e olha só: toda vez que uma pessoa olha pra ele despejam pra fora todos o seus segredos mais sujos. Daí o livro segue contando o passado de Ig, como conheceu Merrin e quanto eram apaixonados e ainda a relação de Ig com um amigo, que está mais pra amigo da onça, Lee Tourneau e o crescimento de uma amizade baseada na ingenuidade de Ig, e sua fé na bondade humana, inveja e morte. E também as coisas sobrenaturais que cercam Ig e seus misteriosos chifres.

Uma das coisas que me incomodaram em A Estrada da Noite, como a crueza da narrativa e os acontecimentos absurdos e totalmente sem noção, não estão presentes em O Pacto,  pelo contrário, Hill abusa de uma narrativa prolixa, tal como o pai, e cuida da construção dos personagens de uma maneira mais cuidadosa tornando eles mais profundos. Há também um cuidado com a narrativa e sua linearidade, onde o autor meio que conta a história de trás pra frente, pontuando a trama com flashbacks mostrando a construção do caráter e a personalidade dos personagens principais envolvidos na trama central que culminaram com o assassinato onde gira a trama principal. Até aí ponto positivo! Isso mostra o quanto Joe Hill evolui como escritor. Mas por que não gostei do livro?

Primeiro, não gostei da maneira como Hill quis mostrar o quanto o ser humano tem de podre dentro de si, retratando a influência do demônio sobre as pessoas. Só acho que se ele quis mostrar isso, e creio que essa era uma das propostas principais do livro, ele pegou bem leve, podendo ter se debruçado bem mais nesta questão tornando o livro uma trama de terror psicológico bem mais intensa e macabra. 

Segundo, Ig é um personagem muito chato e bobo, aquele tipo de pessoa que acredita em tudo e todos e só consegue ver o lado bom das coisas. Creio que uma pessoa assim  deve apanhar muito na vida. Como de fato aconteceu no livro. A ingenuidade de Ig e a maneira como ele vê o mundo e as pessoas culminou por desgraçar a vida dele. Daí o cara vira um demônio cabuloso, cheio de poderes, consegue até controlar cobras e sabe o que ele faz? Apanha...e muito! Daí achei que a questão do sobrenatural não foi muito bem trabalhada. 

Terceiro, a narrativa do livro parece uma montanha russa, cheia de sobe de desce. Tinha horas que o livro estava  muito bom, cheio de reviravoltas, dai lá vem aqueles flashbacks, muitos deles eram bem chatos e se arrastavam por capítulos sem fim e isso me tirava o clima e deixava o livro bem maçante.

E por último, acabou que o livro teve um fim triste e sem respostas. Se teve respostas elas ficaram muito subentendidas. A questão dos chifres do Ig e o por que de ele ter recebido aqueles poderes não são respondidas, não espere por isso se você estiver lendo o livro agora. Sem contar que o mistério da morte da Merrin é solucionado antes do meio do livro e não é nada surpreendente.

Apesar de tudo ainda lerei outros livros do Hill, (inclusive já adquiri Nosferatu) por que gosto do modo inusitado como ele constrói as histórias e seus personagens, a maneira sem pudor como ele trata qualquer assunto sem banalizar nada em seus livros. Hill tem um futuro muito promissor como escritor de supsense e terror e consegue fugir da sombra do pai e escrever sobre os mesmos temas sem ser constantemente comparado com ele. O livro  foi adaptado para o cinema em 2013 com Daniel Radcliffe (o eterno Harry Potter) no papel principal e já vi tantas críticas negativas que só me fizeram ficar sem vontade de ver o filme. Ainda mais não tendo gostado do livro, mas pretendo fazer isso em breve.



Título: O Pacto/Almaldiçoado
Título original: Horns
Autor: Joe Hill 
Ano: 2010
Páginas: 320
Editora: Arqueiro