quarta-feira, 28 de maio de 2014

Primeiras Impressões de The 100 [série]


Pouco tempo atrás esbarrei várias vezes com publicidades dessa nova série de livros intitulada, no Brasil, de The 100: Os escolhidos, da autora Kass Morgan. A sinopse era interessante e me interessei em conhecer mais sobre a história. 

Na obra, o que restou da humanidade agora vive em uma estação espacial, como refugiados de uma guerra nuclear que tornou a Terra inabitável. Com a crescente escassez de recursos, 100 prisioneiros adolescentes são enviados para a Terra numa missão suicida de reconhecimento. 

Depois descobri que a série de TV baseada nos livros foi lançada poucos tempo depois do lançamento do livro nos EUA. Se não entendi errado, o livro já tinha vendido os direitos para a TV antes mesmo de ser publicado, gerando mais curiosidade de conhecer o livro.


Por isso resolvi, antes de encarar o livro, dar uma espiada na série. As vezes as adaptações não fazem jus ao livro, mas já dá pra ter uma boa ideia do que esperar. 

Depois de ver dois episódios, só um pensamento ficou em mim: eu já vi isso antes!

É sério, a série chupa tantas referências que uma pessoa mais atenta poderia citá-las em cada uma das passagens. São outras séries, filmes e livros. Só pra falar algumas que me veem a mente, Lost, Mundo Perdido, A Maquina do Tempo, Terra Nova...

A série é visualmente razoável. Não traz nenhuma novidade. A qualidade dos efeitos é o esperado para uma produção para TV. Nos dois primeiros episódios que eu vi, ainda não havia dado tempo dos personagens serem completamente explorados, e eles estavam revelando seus segredos aos poucos. Mas me incomodei particularmente com os irmãos Bellamy e Octavia, que tem motivações bem fracas para as suas atitudes que têm grandes impactos na história. A série falha totalmente em tornar a relação entre os adolescentes crível.


Não espero que adaptações sejam parâmetros conclusivos para se analisar as obras em que foram baseados. Mas com base no que vi decidi esperar. Depois de ler duas resenhas do livro, qualquer chance de eu ler o livro foi embora. Talvez na próxima eu dê mais sorte.

sábado, 10 de maio de 2014

O Parque dos Dinossauros, de Michael Crichton


Testando novos formatos aqui no Fantasia BR, teremos pela primeira vez uma resenha dupla! O livro escolhido não foi ao acaso. Devido a nossa formação em Biologia escolhemos um livro que tem tudo a ver com isso: Parque dos Dinossauros. Desculpa se nos apegamos as bases científicas da obra. Coisas de cientista :)

Alysson: O filme O Parque dos Dinossauros, clássico da Ficção Cientifica brilhantemente dirigido por Steven Spielberg, foi um dos filmes que certamente marcaram minha infância, vi centenas de vezes que cheguei a decorar as falas. Não muito tempo depois descobri que o filme fora inspirado em um livro homônimo escrito por Michael Crichton, por muito tempo fiquei curioso pra lê-lo no entanto era muito difícil de encontrar pra comprar, até que um dia me deparei com ele em uma versão pocket em uma livrara em Brasília. Não pensei duas vezes em adquiri-lo. Porém da compra até a leitura transcorreram-se quase três anos, mas finalmente consegui terminá-lo e essas são as minhas impressões e as do Enio sobre esse clássico moderno da Science Fiction.

Enio: Quem não gosta de dinossauros? Quase todos nós fomos arrebatados na infância por esses seres envoltos em mistério que parecem ter vivido em outro planeta. Quem é da nossa geração com certeza ficou deslumbrado(a) com a versão desses “monstros” que o diretor Steven Spilberg apresentou no cinema. Mas você já leu o livro que inspirou a série de filmes? Pois prepare-se para ter uma incrível experiência literária ao viajar para o futuro e passado simultaneamente com essa incrível obra de Michael Crichton.

Enio: Fiquei completamente encantado com esse livro. Sempre fui fascinado pelos filmes da série Jurassic Park, mas depois de ler a obra original novos horizonte se abriram para mim. 

Alysson: Realmente livro e filme são bem distintos e isso foi uma grata surpresa, um dos motivos de ter adiado tanto a leitura foi o medo de ler algo repetitivo. 

Enio: Fazendo uma comparação entre o livro e o filme, achei que a melhor mudança que a adaptação para o cinema fez foi o “crescimento” a Lex. No livro ela é uma pirralha chata que só serve pra irritar todo mundo, inclusive o leitor.

Alysson: Em relação aos personagens, achei a Lex um porre de chata também e tinha vontade de rasgar fora as partes que o Ian Malcolm falava demais sobre a sua teoria do caos, gostei mais dele no filme que no livro. O cara, mesmo na hora do perigo não fechava a matraca! Allan Grant foi mais bem retratado no livro e o velho dono do parque é um completo idiota ganancioso. No filme lembro de ter simpatizado com ele.

Enio: É verdade que no filme só mostra o lado sonhador e deslumbrado do dono do parque, o que também me deixou até com a impressão que era outro personagem. 

Alysson: Como biólogo, por formação assim como o Enio, fiquei fascinado com o tema abordado no livro, sobre os avanços da biotecnologia e a possibilidade de se recuperar, através da engenharia genética, seres extintos de eras atrás. 

Enio: Sobre o tema biotecnologia, o livro explora bem a visão que muitas pessoas tinham naquela época sobre o avanços desse ciência. Você pode notar isso em muitas obras dessa época. Tinha-se uma perceptiva muito otimista para o futuro próximo e que se revelou hoje, vinte anos depois, falha. 

Alysson: Apesar de isso ser uma belíssima teoria, sabemos que isso, como estudos recentes mostram, nunca será posto em prática. 

Enio: Acontecesse que a técnica apresentada por Crichton precisaria de uma quantidade enorme de DNA (ou ADN, como preferirem) intacto. Entretanto estudos revelam que o DNA não sobrevive nem 7 milhões de anos, e os dinossauros viveram a 65 milhões de anos atrás. Logo, não veremos dinossauros vivos andando pro ai em nenhum parque ou zoológico.

Alysson: Porém a maneira como o autor se utilizou dessa utópica possibilidade de se clonar dinossauros foi bem convincente e aposto como deixou muitos leitores na época do lançamento (1991) com uma pulga atrás da orelha, pois dinossauros são seres admiravelmente belos, mas terrivelmente assustadores também.

Enio: Indo um pouco mais a fundo no processo descrito no livro, mesmo se achássemos uma sequência de DNA incrivelmente preservada de dinossauros, sair remendando as partes que faltam com sequências de qualquer animal como do Dr. Wu fez não ia rolar. Essa foi a coisa que mais me incomodou no livro todo. Provavelmente o que ia resultar disso eram vários ovos inviáveis, e com sorte alguns fetos grotescos.

Alysson: Justamente! Isso foi umas coisas que mais me incomodou no livro também, eles utilizavam qualquer sequência de DNA de qualquer espécie pra colocar nos pedaços que faltavam no dos dinossauros, como se o DNA fosse um quebra cabeça de criança onde se pode sair remendando facilmente aquelas quatro letrinhas (A T G C). Sem contar que eles mexiam às cegas sem saber que pedaços do DNA seriam sequências codificáveis (genes). E se fossem, eles realmente saberiam que proteínas essas sequencias iriam produzir? Que seres iriam ser produzidos? O livro fala que era um jogo de erros e acertos, mas eles acertaram demais pra soar convincente. E tudo em 5 anos! 

Enio: O mais provável é que se usasse só DNA de aves, os parentes vivos mais próximos dos dinossauros, mesmo assim sem garantias. Isso me lembra de outro ponto. O livro insiste em dizer diversas vezes que os dinossauros não são répteis, mas mais parecidos com as aves. Embora as justificativas que o livro apresenta não estejam erradas, considero que esse debate é irrelevante. 

Alysson: A maneira de se classificar os seres vivos não é uma unanimidade na ciência, existem diversos sistemas de classificação propostos, alguns são aceitos outros não. Os dinossauros são descritas nos livros como os parentes mais próximos das aves, mas é uma linhagem extinta de répteis sim.

Enio: Acontece que a Biologia trabalha hoje com uma classificação dos seres vivos que tenta reproduzir a sua evolução. 

Alysson: Indo mais a fundo todos os seres tetrápodes amnióticos são linhagem evoluídas dos répteis, isso inclui nós, mamíferos. 

Enio: Assim o “grupo” dos répteis inclui sim os dinossauros, mas por uma questão de paradigmas exclui dois ramos dessa árvore genealógica, os mamíferos e as aves. 

Alysson: As aves, por possuírem características exclusivas, não são répteis, mas sim descendente de uma linhagem destes, provavelmente a mesma da qual surgiram os dinossauros. 

Enio: Dessa forma pode-se considerar as aves como, na verdade, os dinossauros que sobreviveram e poderiam ser portanto também classificadas répteis. Essa mudança na classificação não ocorreu, mas Biologia está deixando de classificar os seres vivos por “características” compartilhadas, como o sangue frio, para agrupá-los por parentesco evolutivo.

Alysson: Acho também que o livro abordou bem pouco essa questão biomolecular, sobre a complexidade envolvida na expressão dos genes, penso que de propósito, pois é perceptível que Crichton, apesar de não ter sido biólogo, sabia muito sobre o que falava no livro.

Enio: O autor falhou também em explicar sobre comportamento animal. Ele foi categórico ao falar que era impossível se prever o comportamento animal com base na sequencia de DNA, mas isso não está totalmente certo. Talvez não tenhamos conhecimento suficiente na área, mas isso é sim possível até um certo ponto, já que o comportamento também é influenciado fortemente pelo ambiente.

Alysson: Essa coisa de que o comportamento é influenciado pela genética, ele tentou dar uma explicada puxando no final. Aquela ideia de dizer que os dinossauros eram aves primitivas, quando mostrou os raptores tentando “migrar”, aí ele meio que se contradisse né?

Enio: O livro, além de falar muito sobre avanços da ciência na área de Biologia, também fala muito de computadores. Eu também tenho formação na área de informática, mas confesso que não conheço como funcionavam os sistemas informatizados por volta do ano 1991. Entretanto não consegui perceber nenhuma problema nas explanações sobre o sistema do parque e sua programação.

Alysson: Achei sobre os sistemas computadorizados e as demais geringonças “modernas” do parque muito chatas. Imagino que para os leitores da época, como eram descritos tecnologias de ponta, fosse mais interessante. Hoje como a tecnologia faz parte de praticamente tudo, até ler sobre avanços recentes é um tanto chato. Pra mim essa questão serviu apenas como gancho para o desenrolar da trama, já que foi o sistema falho, com uma ajudinha, que desencadeou a liberação das feras do parque. Confesso que pulei alguns parágrafos, por que ler aquelas explicações após um ótimo capítulo de ação era como tomar um banho de água fria.

Enio: Eu gosto de ler sobre tecnologia então não achei nada disso chato (risos).

Alysson: Como já falei, eu achava o Malcolm um chato e tanto! Eu sempre achei a Teoria do Caos interessante, mas o cara falava demais sobre a coisa e meio que cortava o clima do livro, assim como os computadores e suas explicações sobre o funcionamento do parque faziam.

Enio: Eu já havia, em outra ocasião, tentado entender um pouco mais sobre a teoria do caos, mas devo admitir que fiquei boiando em meio a tantas explicações técnicas sobre o tema. Foram as palavras do Malcolm, com uma explicação menos técnica e portanto mais fácil de compreender, que me fizeram ter uma visão um pouco melhor sobre a teoria. Tudo isso ficou mais maçante, eu acho, só próximo ao final do livro. Mas mesmo assim, aquelas viagens teóricas que ele faz me renderam boas reflexões. 

E pra concluir:

Alysson: A Biologia não é uma ciência exata, muito do que eu aprendi no Ensino Médio mudou de figura quando entrei na graduação, e com os avanços da ciência cada vez mais descobrimos coisas novas e os horizontes sobre o entendimento da complexidade da vida não estão mais tão distantes de nós. Por isso questões sobre ética e bioética são cada vez mais debatidas entre os cientistas. Uma das coisas que o livro aborda é a utilização irresponsável do conhecimento biológico para fins obscuros. Mendel, o pai da Genética certamente teve medo de que sua descoberta sobre os genes fosse utilizada para selecionar deliberadamente características “desejáveis” e eliminar as que não serviam, quebrando a maravilha da variabilidade que existe na natureza. Clonar dinossauros pode ser um sonho, mas hoje os cientistas já conseguem manipular a molécula base da vida e a questão sobre o uso irresponsável das técnicas e do saber cientifico é um fato muito bem abordado por Crichton em O Parque dos Dinossauros.

Título original: Jurassic Park (1991)
Autor: Michael Crichton
Ano: 2009
Editora: Rocco e L&PM
Páginas: 488

sábado, 26 de abril de 2014

Uma Noite Alucinante, evento trancará escritores em livraria


Muitas pessoas desconhecem a origem de um dos monstros mais instigantes da literatura. Ele teria surgido de uma brincadeira entre amigos escritores confinados em uma mansão devido ao mal tempo. Passavam o tempo ledo histórias de terror até que o escritor Lord Byron propôs que cada um dos quatro presentes escrevessem uma história de fantasmas. E foi assim que Mary Shelley, na época com 19 anos, concebeu Frankenstein ou o Moderno Prometeu, ou, como costumamos chamar, simplesmente Frankenstein.

Essa brincadeira, que ocorreu em 1916 e que também deu origem a lenda do vampiro como conhecemos hoje, anda inspirando algumas pessoas hoje. 

Ano passado na  Feira do Livro de Porto Alegre rolou o evento “Tu, Frankenstein 2”, organizada por um dos curadores da Feira, o Duda Falcão, autor de literatura fantástica. Na ocasião, eles levaram diversos autores para a Biblioteca Pública de Porto Alegre. Os contos originados naquela noite vão sair em uma publicação neste ano.

Recentemente, um grupo de autores de Portugal se reuniu no evento intitulado “A Noite de Lord Byron”. Este evento funcionou como um concurso. Quem queria participar era “encarcerado” em uma noite e os contos produzidos eram selecionados para uma posterior publicação.

A partir destas experiências surge agora um novo evento do gênero: “Uma Noite Alucinante”. Esse novo evento tem características bastante semelhantes: uma reunião de autores de fantasia, confinados em uma noite, produzindo contos de suspense e terror. 


O evento vai ocorrer durante a Feira do Livro de Santa Maria, com a participação de nove autores gaúchos. Eles ficarão trancafiados e cercados por câmeras na Livraria Athena. Os trabalhos produzidos durante a madrugada serão reunidos em uma antologia a ser publicada na Feira do Livro de Santa Maria de 2014 pela Editora Argonautas, de Porto Alegre. 

O evento é parte do Circuito Elétrico, um projeto paralelo à Feira do Livro de Santa Maria que ocorre desde 2008, trazendo novidades na literatura além de trabalhar com o circuito alternativo. 

Farão parte do projeto como autores A.Z.Cordenonsi (Duncan Garibaldi e a Ordem dos Bandeirantes), que também é o idealizador e organizador do evento, Chistopher Kastensmidt (A Bandeira do Elefante e da Arara), Duda Falcão (Mausoléu). Enéias Tavares (As Idades do Homem), Estevan Lutz (O Voo de Icarus – Até Onde Nossa Mente pode nos Levar), Fábio Brust (Agora eu Morro), Leonardo Carrion (conselho editorial da revista Black Rocket, vencedor do concurso FC-do-B, 1a. edição, com o conto A idade do lobo), Nikelen Witter (Territórios Invisíveis um dos finalistas do Prêmio Argos 2013), Suzy Hekemiah (Código dos Mares – Os Contos do Tempo). 

Confere ai a programação:

03/05 - Na Livraria Athena 
16:00 – Debate com os autores: a produção fantástica e a influência de Mary 
Shelley 
18:00 – Sessão de autógrafos coletiva 
20:00 – Encarceramento dos autores 
durante a madrugada – Produção dos contos 

04/05 – No Shopping Monet 
10:00 – Mesa redonda sobre a experiência e leitura de um dos contos produzidos 


segunda-feira, 14 de abril de 2014

Santuário, de Andrio Mandrake


Em 2012 uma grande estiagem que ocorreu no Rio Grande do Sul acabou revelando as ruínas de uma vila alagada por uma represa há 40 anos. A partir desse evento atípico Andrio Mandrake desenvolve sua narrativa que envolve mistério e sobrenatural. 

Logo de cara, uma das coisas que me chamou atenção nesse livro foi o uso de um acontecimento real, num lugar que existe, para criar uma narrativa fantástica. Nada de outros mundos ou universos paralelos. Ou seja, nada de ter que aprender tudo sobre um novo mundo mais uma vez. Um alivio, sento sincero.

O livro divide-se em dois domos, cada um iniciado com uma ilustração muito bela. Aliás no livro todo nota-se um cuidado com a parte gráfica. Desde a capa até detalhes no inicio de cada capítulo, o que se torna uma atração a mais para o livro.

Andrio conseguiu construir bem alguns personagens, com diálogos internos bem realistas que acaba por criar empatia. Entretanto é na hora da interação entre esses personagens que ele peca. Principalmente com os diálogos. As coisas, nesses momentos, acabavam acontecendo em uma velocidade exagerada, e nem sempre natural.

A história foca em alguns poucos personagens. Mas é Ian, um historiador, o ponto central da trama e a partir do qual todos os outros orbitam. É assim o personagem trabalhando com mais profundidade e que tem um complicado dilema interno. Ele vai visitar as ruínas da vila principalmente para fugir de problemas familiares e no trabalho, tentando espairecer. Mas para seu azar acaba encontrando muito mais do que isso.

Outra personagem importante, Laura foi quem mais me intrigou. Completamente impulsiva, e extremamente rápida na hora de abandonar o luto pela morte do amigo.

Algo que pode atrapalhar a fluidez da leitura de alguns, como atrapalhou a minha, é a linguagem arcaica que permeia o livro. Esse tipo de linguagem era mais presente na fala da jovem sacerdotisa. Era um traço da sua linguagem e se fosse só isso não me incomodaria. Mas, talvez com a intenção de dar mais elegância ao texto, as linguagem rebuscada em alguns trechos acabava me despertando do “transe” que a leitura proporciona quando é fluida.

Fazendo um balanço geral sobre o livro, acho que ele merecia um novo tratamento para concertar as falhas. A premissa é boa, me deixou interessado, os personagens foram bem escolhidos e o mistério é bom. Mas a execução deixou a desejar em alguns pontos. Apesar de todas as coisas que me incomodaram, a minha impressão sobre o livro teria sido muito melhor se não fosse pelo final. Acho que merecia uma melhor explicação obre os fatos que ocorreram e um proposito mais claro.

Algo que conta a favor do livro é que ele ao menos não caiu na armadinha da continuação. É um livro fechado (embora nada tire a possibilidade do autor escrever mais sobre os personagens). Ponto pro Andrio.

Você pode adquirir o livro na página do livro Santuário no blog do autor.

terça-feira, 1 de abril de 2014

A Aliança dos Castelos Ocultos: Série Controlados vol. I, de Peterson Silva


Originalidade é uma das coisas mais difíceis de se encontrar na literatura atualmente, e a fantasia, onde a inventividade não tem limites, também carece de coisas originais. Nessa sua estreia na literatura, Peterson Silva consegue se utilizar de figuras comuns das obras de fantasia e criar algo novo, diferente e bastante inteligente. Na série Controlados, você verá magos como nunca se viu igual. 

Nada de feitiços escabrosos, invocações fantásticas, e aquele show pirotécnico de bruxos com varinhas mágicas. Em Heelum, o universo fantástico criado pelo autor, magos são pessoas que se utilizam da capacidade de invadir a mente de outros e assim manipula-las ou até mesmo controla-las completamente. Existe uma espécie de universo paralelo chamado Neborum, onde só os magos conseguem entrar, e nesse local as pessoas possuem o seu eu interno, sua alma ou iaumo na manifestação física de um castelo. Para atingir seus objetivos, através de inúmeras técnicas utilizadas pelas diferentes ordens de magos de Heelum, eles invadem os castelos de seus alvos para assim controlar seus donos ou influencia-los plantando informações em seu interior. Por essa capacidade os magos são temidos e ao mesmo tempo venerados tornando-se importantes políticos e grandes senhores de Heelum. A história trata de um brutal jogo político envolvendo esses poderosos seres e o destino de Heelum está no desfecho desse perigoso jogo. 

Apesar de ser uma obra original, com uma escrita madura, que mostra o potencial do autor, A Aliança dos Castelos Ocultos não é uma obra grandiosa. Uma fato que sempre me incomodou com autores estreantes é a pretensão de criar logo de cara uma série. Quando vejo na capa “Livro 1” isso já me desanima (ultimamente até mesmo com autores consagrados!). Penso que, mesmo que o autor queira criar uma série, deveria criar uma história fechada no livro de estreia, que contenha os ganchos para as possíveis continuações. Se o livro for bem recebido pelo público é logico que uma continuação é mais que bem-vinda e os leitores clamarão por ela. 

Esse livro de Peterson Silva tem potencial sim pra atingir grandes públicos, mas se melhor lapidado. Como disse é bem escrito e diferente, porém peca em alguns pontos essências como a maioria dos personagens serem rasos e você não conseguir se apegar à maioria deles. Pra mim quando você se identifica com um personagem, se apega, a leitura flui facilmente. Nesse livro Lamar foi um dos personagens mais bem construído do autor justamente por não ser raso. Ele tem seus dramas familiares, seus medos e uma história que o torna mais vívido. 

Outro ponto essencial foi a falta de clareza em alguns aspectos fundamentais da trama, como a diferença entre magos alorfos e filinorfos. Tive que recorrer a outros meios de me informar sobre essa questão pra poder entender a trama política envolvendo os magos. E o último e mais grave erro do autor foi, com disse, não finalizar o livro. Acho que ele poderia ter centrado a história em um ponto especifico e finalizar nesse livro 1,  pois a maioria dos pontos de vista tinham propósitos muito distintos e nenhum deles teve um fim satisfatório. Posso citar como exemplo Harry Potter. Os livros tinham uma trama fechada que se encerrava a cada volume e uma subtrama por trás (pelo menos até o livro 4) que era a luta contra Voldemort. Esses foram os pontos que não me fazem dar nota uma nota melhor pra A Aliança dos castelos Ocultos.

Apesar de tudo, de cara pude ver que Peterson Silva tem talento e sua série tem sim potencial se for melhor trabalhada. A escrita do autor é leve, tanto que consegui ler relativamente rápido. Outra coisa que gostei foi o vilão, Desmond, malvado e sedento por poder, como um bom vilão deve ser. E o Neborum foi uma sacada genial, adorei! A utilização de pontos de vista diferentes também foi bem colocada e sem demasia de personagens, o que é raro em épicos de fantasia. E a descrição dos locais foi precisa e sem exageros narrativos. Por fim, Heelum foi uma boa descoberta nesses novos universos fantásticos criados por autores nacionais.

Você pode ler o livro e saber mais sobre a obra no site da Série Controlados.


segunda-feira, 24 de março de 2014

A Dança da Morte, de Stephen King



O futuro apocalíptico imaginado por Stephen King me marcou de uma maneira tão profunda que não sei expressar muito bem tudo que senti lendo esse livro em uma simples resenha, certamente A Dança da Morte foi um dos maiores (se não o maior) e melhores livros que já li na vida. Um prato cheio com tudo aquilo que os ávidos leitores do “Rei” mais gostam em suas tramas inteligentes e bem elaboradas. Terror, ficção cientifica, drama, fantasia e de sobremesa um profundo debate filosófico sobre o futuro da sociedade, moralidade, a natureza humana, Deus, e o verdadeiro significado do bem e do mal.

Uma arma biológica, um vírus secretamente estudado em um laboratório, o chamado “Projeto Azul”, escapa do controle do laboratório contaminando todos no local e por uma série de pesquemos acasos acaba escapando para fora e causa um efeito dominó que devasta nada menos que 99% da população mundial. Inexplicavelmente, o vírus, que é bem semelhante ao HIV, não afetou alguns poucos e através de pontos de vista de alguns desses sobreviventes vamos acompanhando a sua jornada na busca de sobreviverem após o fim do mundo.

Bom, até ai parece mais um livro pós-apocalíptico, não? Então o que faz A Dança da Morte diferente de outros livros que tratam de temas semelhantes? Recentemente tive contato com obras parecidas como A Estrada e Eu Sou A Lenda que apesar de serem distintos, no fundo falam da mesma coisa. O diferencial dessa obra prima de King é o fato de não se restringir a apenas ao “fim do mundo”. Depois disso, primeiramente o livro narra a tentativa de reconstrução da sociedade onde questionamentos e discussões filosóficas são oferecidas ao leitor, profundamente de natureza sociológica, claro, mas também sobre a natureza humana. O que realmente é o bem ou mal e como acontecimentos corriqueiros ou até mesmo banais podem moldar as nossas decisões ou nossa personalidade. E mais pra frente o livro se torna um verdadeiro épico de horror, um grande embate entre o bem e o mal no melhor estilo King que é o ponto diferencial dessa obra. Ficção científica, fantasia, drama e horror se misturam em um épico de proporções gigantescas (literalmente) onde o foco final foi a luta entre o bem e o mal, parecido com O Senhor dos Anéis. Inclusive, nesse livro, King faz inúmeras homenagens ao mestre da fantasia, J R. R. Tolkien, citando-o em várias partes do livro.

A Dança da Morte é dividido em três partes. Na primeira, Capitão Viajante, somos apresentados aos personagens centrais e às consequências da epidemia da supergripe causada pelo vírus que escapou do laboratório que também é conhecida como Capitão Viajante. Essa parte então narra como os poucos sobreviventes lidam com catastrófica situação que muda drasticamente tudo ao redor. Aqui é onde King também constrói aquela aura inquietante de terror e sobrenatural que só tende a crescer no decorrer da trama, culminado com cenas de tirar o fôlego, e também apresenta seus personagens centrais, seus dramas e suas histórias o que os torna bastante vívidos. Uma moça grávida, um cantor pop iniciante, um homem taciturno do interior, um velho sociólogo pessimista, um carismático surdo mudo e um retardado muito simpático figuram entre os personagens principais da trama. Uma coisa que achei muito boa foi a evolução destes personagens no decorrer do livro, até alguns dos “malvados” tiveram seus pontos altos.

Na segunda, Na Fronteira, é onde os sobreviventes começam a ter contato mais direto com o sobrenatural, pois todos sonham ou com uma velha e bondosa senhora de 108 anos, Mãe Abagail, ou com o temível homem escuro, o famoso vilão de King, Randall Flagg. Aqui os personagens fazem suas escolhas e partem para a tentativa de reconstruir o mundo. Os “bons” se juntando a Mãe Abagail e os “maus” se juntam a Flagg. Aqui acho interessante mencionar que nem todos são 100% bons ou maus, todos eram acima de qualquer coisa humanos e até mesmo seus líderes, Abagail que representava o bem, e Flagg que representava o mau, tiveram seus momentos de falha. O que King deixa claro também é a questão do livre arbítrio, a maioria sonhava com os dois lados e escolhiam aquele que mais lhe agradasse. Essa segunda parte foi a que teve seus momentos de calmaria, até demais pro meu gosto, algumas passagens foram um tanto chatas e sem propósito definido.

Na terceira, A Resistência, é quando os caminhos se convergem e os dois lados começam a ver um ao outro como uma ameaça para a sua sobrevivência. Essa última parte culmina com cenas emocionantes e surpreendentes. Foi a parte que li mais rápido, em um dia apenas, e depois da leitura respirei fundo e me dei conta de que King conseguiu escrever um livro melhor que O Iluminado, que pra mim tinha sido a melhor obra dele. Alguns podem discordar de mim, mas A Dança da Morte é o melhor livro de King, e quem acompanha A Torre Negra vai encontrar na saga inúmeras referências a esse livro, começado por Flagg.

Algumas partes de A Dança da Morte podem soar meio religiosas, em especial na segunda metade do livro. Mas o que me pareceu foi uma coisa meio dúbia, que ora soava religioso ora profano, bem no estilo King, o que fica bem interessante. Só que Stephen King não escreveu uma obra ateísta ou religiosa apenas levou em conta tudo aquilo que passam por nossa cabeça no que se refere ao sobrenatural, não dando o crédito total à fé religiosa. Toda a trama de terror e drama tem então uma capa religiosa bem trabalhada onde King ousou ao fazer referências claras à Bíblia, do Êxodo ao livro do Apocalipse, sem contar as inúmeras passagens que acompanhamos no decorrer do livro. Faço uma menção honrosa à uma citação do salmo 23 perto do final da parte 3 que me fez chorar horrores!

Por fim, ler a dança da morte foi uma verdadeira viagem. Enquanto lia me senti realmente na companhia desses personagens em sua peregrinação através de um país devastado, onde a aura de morte impregnava tudo. Em sua escrita detalhada King faz com que o leitor sinta tudo no ambiente que cerca seus personagens, bem como experimentar na pele o que eles sentem intimamente. A cena em que Larry Underwood (o cantor), fugindo da Nova York devastada, atravessa o túnel Lincoln, escuro e cheio de corpos em decomposição me deu calafrios. Pude sentir na pele o medo e o pânico de Larry bem como a aura sombria de um local que só cheirava a morte. Isso mostra como King é um verdadeiro gênio da escrita, não só de horror, por que tudo que o cara escreve é muito bom e de uma qualidade sem tamanho! E hoje sem a menor sombra de dúvidas coloco o Rei no topo da lista dos meus autores preferidos.

Esse livro recentemente foi lançado com uma nova capa e letras maiores pela Suma de Letras. As 944 páginas da edição da Objetiva se transformaram em 1248 páginas que assustam qualquer leitor, mas o que aumentou em páginas diminuiu em preço o que antes custava até R$ 100,00 pode ser adquirido por até R$ 67,00 ou por R$ 30,00 na versão digital.

A Dança da Morte teve uma adaptação pra TV datada de 1994 e pode ser encontrado em DVD. Recentemente a Warner anunciou que lançará um filme baseado na obra, mas atualmente está apenas no papel. Fica a torcida para o filme sair o mais breve possível!

Título original: The Stand (1978, 1990)
Tradução: Gilson B. Soares
Editora: Suma de Letras
Páginas: 1248

quarta-feira, 19 de março de 2014

Contos de fantasia brasileiros grátis na Amazon

O mercado de ebooks está a cada dia ganhando mais força. Com isso as editoras estão investindo mais nesse nicho. Uma das estratégias que muitos estão usando para chamar a atenção de seus livros e autores é a disponibilização de livros e contos grátis. 

Aqui reuni três contos grátis de autores brasileiros de fantasia que estão disponíveis na Amazon (precisa ter uma conta pra baixar) junto com pequenos comentários sobre eles. Aproveitem. É grátis e não vai custar nem muito tempo :)

Fui uma boa menina?, de Carolina Munhóz

Um conto de natal sobre uma menina que está se escondendo do pai depois que um terrível acidente ocorre com sua mãe. Nunca tinha lido nada da Carolina Munhóz, que já publicou os livros A Fada, O Inverno das Fadas e Feérica, todos tratando, como esse, obviamente de fadas. O que eu pude perceber após ler esse conto foi o que já desconfiava: eu não faço parte do público para o qual a Carolina escreve. Não gostei do estilo nem na história. Mas acho que quem já leu algum livro dela e gostou deve gostar esse conto.

Os três lobinhos, de Fábio Yabu  

Esse conto é uma amostra do livro de contos Branca dos Mortos e os Sete Zumbis, do Fábio Yabu. O livro tem prefácio de Eduardo Spohr e foi publicado originalmente pela editora Nerdbooks, do site Jovem Nerd, com o Fábio assinando como Abu Fobiya. Entretando recentemente o livro foi republicado por outra editora, a Globo. O conto, assim como todo o livro, reconta os tradicionais contos infantis com uma roupagem mais macabra. Achei o conto bem interessante, embora ele seja mais um tipo de conto explicativo do que uma história em si. Vale a pena, principalmente pra quem está na dúvida sobre comprar o livro. 

Trenzalore, de Jim Amotsu 

O autor de Annabel & Sarah e A Morte é Legal, Jim Amotsu também é fã de Doctor Who e escreveu esse conto como uma homenagem a série de TV. Não é um conto de fantasia nem ficção científica, mas eu o inclui aqui pois foi escrito por um autor de fantasia homenageando uma série de FC. Confesso que nunca assisti a nenhum episódio de Doctor Who, por isso sei que perdi todas as referências sobre a série, mas isso não me impediu de gostar do conto e dos personagens. O autor anunciou em seu twitter que var transformar esse conto em um livro. Quem sabe até lá eu assista a série e consiga entender as referências.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Coletânea O Outro Lado da Cidade no Catarse

O Outro Lado da Cidade é um projeto de coletânea e concurso literário de contos de fantasia urbana financiado coletivamente (crowdfunding).

O concurso que escolheu os contos que farão parte do livro já rolou e foram escolhidos oito contos de autores diferentes. Além desses autores foram convidados mais duas autoras, Bárbara Morais e Ana Cristina Rodrigues, para completar os dez contos que estarão no livro.

Mas se você quiser apoiar o projeto ainda dá tempo. Conheça mais sobre o projeto e os autores no site O Outro Lado da Cidade e apoie o livro no site Catarse. O projeto encerra as doações dia 14 de março e já atingiu mais de 50% da meta.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

A Cor da Magia, de Terry Prattchet


O mundo não é redondo mas plano e o sol gira em torno de nós. Na verdade o planeta é suspenso sobre as costas de quatro elefantes gigantescos que sustentam o mundo nas costas de A’Tuin a Tartaruga que carrega o planeta em seu casco enquanto vaga pela imensidão do universo. Isso parece absurdo não? Mas é nesse universo de improbabilidades infinitas que Terry Prattchet narra as mais loucas aventuras do universo do fantástico, em uma série que foge do comum em relação aos livros de fantasia. Bem-vindo ao Discworld, onde o improvável, é mais improvável ainda.

A Cor da Magia tem em seu objetivo central ambientar o leitor no imaginário de Prattchet, e nos mostrar como as coisas funcionam no Discworld, o que não dá muito certo, pois a toda hora você é pego de surpresa com as coisas mais absurdas e hilárias e começa a entender que nada em Discworld segue uma regra, as leis da ciência que se aplicam a nós aqui na Terra não seguem a ordem natural das coisas nesse mundo, a não ser a Octarina, a oitava cor do espectro do arco-íris que está sempre relacionada à Magia.

O livro inicia-se com o incêndio da cidade de Ankh Morpork (uma coisa engraçada no nome dessa cidade, por que em inglês soa como “More Pork”, “Mais Porco”) o que faz sentido, pois é um lugar cheio de feiticeiros, ladroes, espiões, assassinos e trambiqueiros sem o mínimo escrúpulo, onde até as baratas roubam dos ratos. E aqui é onde os nossos protagonistas entram, Rincewind, o mago fracassado que só sabe um feitiço e não se lembra dele, o turista Duasflor, para que tudo está na mais perfeita ordem, a mala-bagagem do turista, cheia de pernas que anda sozinha e morde! E o bárbaro, cheio de músculos e quase sem cérebro Hrun, que compensa a fala de inteligência com um imenso talento para lutas (até dormindo!). Ah, e também o Morte, que apesar de aparecer pouco adorei suas passagens apressadas e bem humoradas no encalço do mago Rincewind. E assim, esse primeiro livro transcorre focando nas desventuras desses inigualáveis personagens ao longo da paisagem fora do comum do Discworld, indo até a Borda do Mundo onde se metem nas mais inusitadas encrencas.

O que mais gostei em Discworld, além de fugir do convencional na fantasia, que é a patota de heróis lutando pra salvar o mundo, foi a maneira como Prattchet usa de situações inusitadas, desde coisas corriqueiras ao desastre iminente pra fazer o leitor se deliciar com o mais fino humor já visto nos livros de fantasia. O leitor realmente ri na cara do perigo em certos momentos. O autor não necessita de lutas épicas para prender o leitor, apesar de fazer isso com maestria em algumas passagens.

A Cor da Magia tem inúmeras criações do autor despejada em suas poucas 231 páginas, o que pode deixar o livro meio confuso, e uma coisa que não curti muito foi a mudança brusca de cenários em alguns momentos. Mas nada disso tira o encanto dessa obra divertida e original. A série tem em torno de 30 livros publicados no exterior, uma pena que aqui no Brasil a Conrad lançou apenas 13 e por alguma infelicidade nem continuou a publicação dos outros e nem relançou as antigas edições que encontram-se esgotadas.

Então, pra quem quiser fugir da mesmice dos livros de fantasia, Discworld é uma boa pedida, é diversão na certa, muitas risadas, situações hilárias e uma história surpreendente o aguarda!

Título Original: The Colour of Magic
Ano: 1983
Editora: Conrad
Páginas: 231

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Prémio Bang! de Literatura Fantástica 2014

 
Clique para comer o bolo que faz crescer.
 
O Prémio Bang! pretende encontrar um romance inédito de literatura fantástica, ou seja, ficção científica, terror/horror, fantasia, histórias alternativas, realismo mágico...

Organizado pela Editora Saída de Emergência, o livro ganhador deverá ser publicado simultaneamente no Brasil e em Portugal e o autor ou autora vencedor(a) receberá ainda um prêmio (ou prémio) de 3.000 euros.

Fiquem atentos, o concurso é exclusivo para livros inéditos, escritos na língua portuguesa, mas também exclui livros que já tenham já sido premiados ou recomendados para publicação noutros concurso, mesmo que ainda sejam inéditos.

O prazo para candidaturas vai até o dia 6 de Julho de 2014. O regulamento completo está no site da Revista Bang!

Boa sorte escritores!

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Conheça: Santuário



É demasiada vaidade acreditar que o homem é soberano sobre a Terra. Na escuridão ou sob as águas, enraizado no próprio cerne da humanidade, existiu sempre algo mais. Mas a era da fé no divino e no profano, em suas formas puras, se acabou. Contudo, isso não significa que crenças nascidas outrora também tenham se evanescido. A eternidade jaz no silêncio. O éter jamais se desfaz.

A seca de junho trouxe pedra erodida do fundo do rio. O que antes era apenas nostalgia, ressurgiu. As pessoas passam a ir a Quinze de Novembro para ver as ruínas de Passo do Lagoão. Todavia, algo mais ascendeu com as ruínas e o lodo.

Um estudante de uma excursão é encontrado afogado. Mas o enfermeiro Egon tem razões para suspeitar que algo está sendo encoberto. Ele próprio encontrou o estudante febril, na noite antes de sua morte. Uma febre atroz, sem razão, que também acometia outro menino da localidade.

Ian Beck é um professor universitário que escolheu seus passos e determinou sua própria obsessão. Na vã tentativa de fugir dos seus erros, ele esbarra no que poderia ser o seu mais sublime: Laura. Ele navega através de águas escuras. Entre a ânsia de confortá-la pela morte do amigo Pedro e recuperar sua vida, ele persegue uma verdade inconveniente sobre a vila inundada. Assim, acabou invadindo o mundo de Eva, a sacerdotisa de uma tradição que o tempo expurgou das suas memórias.

Este romance trata de um mito surgido no seio da humanidade. Algo que prosperou na consciência de um povo recluso. Um segredo que irá recair sobre Ian, Laura e Egon como uma herança funesta. Espólios soturnos que podem convergir e romper com a realidade aceita. São reminiscências sombrias do puro éter.

Santuário é um romance de horror literário que traz elementos de misticismo e referências à “Mitologia dos Antigos”, de H.P. Lovecraft. Seus personagens possuem uma vida pulsante, tomados por paixões, medos e fantasmas. Sugerindo perguntas sobre a intensidade de antigas crenças e o limite entre sonho e realidade, o livro é uma alegoria ao imaginário humano. 




Sobre o autor:

Andrio Mandrake é um autor gaúcho, natural de Cruz Alta, ainda em início de carreira. Antigamente escrevia sobre cavaleiros e dragões, mas foi absorvido pela escuridão que devora o mundo. Conheceu King num pesadelo e Cthulhu numa noite de tempestade. Aficionado por Rice e café, aprecia vinho com sua musa ruiva e sente falta do violoncelo que nunca tocou. Tem por hábito escrever à noite, enquanto sua gata, Luci, costuma fitar o corvo na sua janela.

Título do Livro: Santuário
Autor: Andrio Mandrake
Página: 238
Ano: 2013
Editora: Independente 

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

O oceano no fim do caminho, de Neil Gaiman


Uma das características que eu mais gosto nos livros do Neil Gaiman é sempre te entregar a fantasia de uma forma natural e progressiva. Em O oceano no fim do caminho também é assim. 

No prólogo somos apresentando a um homem de meia-idade, narrando o dia do funeral de alguém da família. Sem saber direito o motivo de estar fazendo isso, ele acaba indo parar em uma velha fazenda vizinha a sua casa de infância, onde tinha uma amiga. Lá, nas margens de um lago, ele volta a se lembrar de eventos da sua infância. Essas lembranças formam a parte principal da trama. 

Quando era uma criança, um homem roubou o carro de sua família se matou nele, no fim da estrada da fazenda. Esse evento acabou perturbando forças estranhas e elas precisam ser controladas. Littie Hempstock, uma garotas que parece ter muito mais que onze anos, jura protegê-lo, mas nem tudo sai como planejado. 

O livro é narrado em primeira pessoa, mas achei curioso que o nome desse personagem só é citado bem mais pro final do livro, tão repentinamente como se já soubéssemos e não fosse uma informação relevante. 

Achei todos os personagens do livro deixam sua marca, seja por empatia ou antipatia. As três mulheres Hempstock, a avô, a filha e a neta, são o destaque do livro. Envolta em seus mistérios elas transmitem uma grande segurança e sabedora e são elas as estrelas da trama. 

O livro pode também promover um pouco de reflexão sobre nós mesmos,as consequências de eventos da infância na vida adulta, nossos medos, e os perigos de se estar vivo. 

Já no epílogo, voltamos para às margens do lago. As lembranças terminaram e o personagem-narrador precisa voltar ao funeral. É ai que entendemos as marcas que esses eventos da infância deixaram no personagem. 

Como sempre, Gaiman não decepciona. É uma trama enxuta e limpa. Não é um épico e não tenta ser um épico, mas são justamente esse tipo de livros que eu tenho mais apreciado ultimamente. E Gaiman faz isso sempre com muito talento.

Título: O oceano no fim do caminho
Título original: The Ocean at the End oh the Lane, 2013
Autor: Neil Gaiman
Ano: 2013 
Páginas: 208
Editora: Intrínseca 
Tradução: Renata Pettengill