quinta-feira, 10 de setembro de 2015

O Pacto/Amaldiçoado, de Joe Hill



Sabe aqueles livros que todo mundo fala super bem e que você não vê a hora de ter eles na mão para ler logo? Pois é, O Pacto, escrito pelo filho do renomado escritor de terror e suspense Stephen King, Joe Hill, era um desses livros que sempre figuraram na minha lista de desejados por ser tão bem criticado pelos leitores. Porém, tive sempre um certo receio de adquirir ele por não ter gostado tando assim de um outro livro dele "Heart-shaped Box" (Sim, igual aquela música do Nirvana) traduzido aqui no Brasil como "A Estrada da Noite". O fato é que consegui ler o livro por meio de um grupo muito legal que encontrei na internet, com pessoas muito bacanas e sem neuras que emprestam seus livros mesmo a gente morando a quase 2.000 km de distância! E olha a surpresa: odiei o livro!


A narrativa central de O Pacto gira em torno de Ignatius Perrish que foi acusado de estuprar e matar a namorada, Merrin, mas por falta de provas nunca foi preso. Daí um belo dia o cara acorda com chifres (o título original é Horns = chifres) na cabeça e olha só: toda vez que uma pessoa olha pra ele despejam pra fora todos o seus segredos mais sujos. Daí o livro segue contando o passado de Ig, como conheceu Merrin e quanto eram apaixonados e ainda a relação de Ig com um amigo, que está mais pra amigo da onça, Lee Tourneau e o crescimento de uma amizade baseada na ingenuidade de Ig, e sua fé na bondade humana, inveja e morte. E também as coisas sobrenaturais que cercam Ig e seus misteriosos chifres.

Uma das coisas que me incomodaram em A Estrada da Noite, como a crueza da narrativa e os acontecimentos absurdos e totalmente sem noção, não estão presentes em O Pacto,  pelo contrário, Hill abusa de uma narrativa prolixa, tal como o pai, e cuida da construção dos personagens de uma maneira mais cuidadosa tornando eles mais profundos. Há também um cuidado com a narrativa e sua linearidade, onde o autor meio que conta a história de trás pra frente, pontuando a trama com flashbacks mostrando a construção do caráter e a personalidade dos personagens principais envolvidos na trama central que culminaram com o assassinato onde gira a trama principal. Até aí ponto positivo! Isso mostra o quanto Joe Hill evolui como escritor. Mas por que não gostei do livro?

Primeiro, não gostei da maneira como Hill quis mostrar o quanto o ser humano tem de podre dentro de si, retratando a influência do demônio sobre as pessoas. Só acho que se ele quis mostrar isso, e creio que essa era uma das propostas principais do livro, ele pegou bem leve, podendo ter se debruçado bem mais nesta questão tornando o livro uma trama de terror psicológico bem mais intensa e macabra. 

Segundo, Ig é um personagem muito chato e bobo, aquele tipo de pessoa que acredita em tudo e todos e só consegue ver o lado bom das coisas. Creio que uma pessoa assim  deve apanhar muito na vida. Como de fato aconteceu no livro. A ingenuidade de Ig e a maneira como ele vê o mundo e as pessoas culminou por desgraçar a vida dele. Daí o cara vira um demônio cabuloso, cheio de poderes, consegue até controlar cobras e sabe o que ele faz? Apanha...e muito! Daí achei que a questão do sobrenatural não foi muito bem trabalhada. 

Terceiro, a narrativa do livro parece uma montanha russa, cheia de sobe de desce. Tinha horas que o livro estava  muito bom, cheio de reviravoltas, dai lá vem aqueles flashbacks, muitos deles eram bem chatos e se arrastavam por capítulos sem fim e isso me tirava o clima e deixava o livro bem maçante.

E por último, acabou que o livro teve um fim triste e sem respostas. Se teve respostas elas ficaram muito subentendidas. A questão dos chifres do Ig e o por que de ele ter recebido aqueles poderes não são respondidas, não espere por isso se você estiver lendo o livro agora. Sem contar que o mistério da morte da Merrin é solucionado antes do meio do livro e não é nada surpreendente.

Apesar de tudo ainda lerei outros livros do Hill, (inclusive já adquiri Nosferatu) por que gosto do modo inusitado como ele constrói as histórias e seus personagens, a maneira sem pudor como ele trata qualquer assunto sem banalizar nada em seus livros. Hill tem um futuro muito promissor como escritor de supsense e terror e consegue fugir da sombra do pai e escrever sobre os mesmos temas sem ser constantemente comparado com ele. O livro  foi adaptado para o cinema em 2013 com Daniel Radcliffe (o eterno Harry Potter) no papel principal e já vi tantas críticas negativas que só me fizeram ficar sem vontade de ver o filme. Ainda mais não tendo gostado do livro, mas pretendo fazer isso em breve.



Título: O Pacto/Almaldiçoado
Título original: Horns
Autor: Joe Hill 
Ano: 2010
Páginas: 320
Editora: Arqueiro

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